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Autoódio, coprofagia, e a saga de um país iniciante

É engraçado esses momentos de força e determinação que súbitos, não perduram por mais do que vinte segundos. Se o leitor amigo já comeu um balde de merda, então sabe do que estou falando... afinal, quem nunca foi adepto da Coprofagia?

Não, eu também não, mas é verdade que existem antecedentes em minha família, gente que comia cocô de galinha quando criança. Já entre os conhecidos há um que adorava comer pentelho preso no ralo do banheiro. Pode parecer repugnante, eu sei, mas tem gente que escreve diário, gente que assiste novela e gente que come merda ou similares. E tem diferença entre os três, por acaso?

Mas eu falava de força e determinação quando a minha se foi e descambei para assuntos colaterais. Quem diabos se importar com os torrões de meleca grudados embaixo do painel dum carro ou com meu cachorro que morreu enforcado, o mundo é uma merda mesmo.

Outro dia deu na tevê que proclamamos a república, que não somos mais o país do rei pelé, mas sim do presidente lula. E daí? Eu nem sequer como frutos do mar. E fazemos agora uma paródia ao contrário dos franceses, vamos proclamar a república dando brioches para o povo comer. Ahhh machado, machado...

Bem, havia uma Babette na minha família. A surpresa não devia ser de todo surpreendente, embora essa não seja a Babette que agia na lagoa atacando rapazinhos. É provável que um dia eu houvesse visto esse nome e daí gravado na memória, até que a história sórdida manchou o papel. Babette nasceu por volta de 1881, e era a filha mais nova da irmã mais velha do avô do meu avô, o mesmo avô cuja mãe vinha da família dos Jochims, e diz a lenda que até hoje existe no Rio Grande do Sul o museu da família onde é guardado o grande tesouro: a guampa (isto, é, chifres) dos Jochims. Mas a Babette não tinha nada a ver com essa história toda, a não ser pelo fato de que era tia do cara que casou a dona Jochims.

Dos míseros 14 irmãos mais velhos de Babette, ela conheceu no máximo quatro, isso porque os outros dez morreram antes mesmo dela nascer. O primeiro filho do casal morreu com 20 meses, o segundo com oito dias, o terceiro viveu e casou, o quarto bateu as botas com 12 meses, o quinto, o sexto e o nono também cresceram e casaram, enquanto os sétimo e oitavo morreram com 11 e 2 meses respectivamente. O décimo se foi com 28 meses, durou bastante, e o valoroso Hermann então, o décimo primeiro, 52 meses, mais que um consórcio de carro usado. O décimo segundo deitou na terra com 20 dias, enquanto o décimo terceiro aguentou 12 meses e 20 dias. O décimo quarto, também com 12 meses e vinte dias. Tudo isso para quê? Para que finalmente Babette pudesse nascer, não morrer, casar e se mandar. Dos 15 filhos, dez morreram antes de cinco anos e nove antes dos dois anos.

Agora, considerando que a família migrou de Kreuznach para o Brasil por volta de 1850, e que esses partos sucessivos ocorreram entre 1860 e 1880, eu pergunto, que espécie de mundo filho da puta e colônia desgraçada nós éramos? Enquanto nas metrópoles já havia Edgar Allan Poe, Karl Marx, e os primeiros passos dos sanitaristas eram dados.

Sei não. Minha determinação não dura mais que vinte segundos, embora a iniciativa muitas vezes eu tenha. Se algo dá trabalho, é sinal que simplesmente não vale o trabalho gasto em consegui-lo. Mas depois de conhecer Babette ao menos uma coisa descobri, comer um balde de merda talvez não seja a pior coisa do mundo. Afinal, quem nunca pensou em praticar uma coprofagia ou coprofilia?


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