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Uma noite no cio

Eu suava e grudava na cadeira pegajosa. O verão fazia isso, deixava tudo úmido como buceta de colegial. Eu tentava loucamente me tornar um escritor, o que quer que isso fosse. Para se tornar um escritor, havia três coisas basicamente necessárias: bebida, mulher e bebida. Desde as bebidas mais baratas até álcool de garrafa, valia tudo.

Eu estava no bar do Lanque. Lanquemar de Souza era o nome do dono, ou pelo menos seu pseudônimo na época em que cantava boleros em excursão pelo país. Se aposentara e viera pra cá, abrir seu bar à beira da praia. Tocava o melhor chachacha da ilha, reduto de bêbados, alcoólatras e mulher feia.

Um cara e uma guria me interromperam, mal saíam as espinhas do rosto e se diziam estudantes de jornalismo. Faziam uma enquete com os freqüentadores dos bares noturnos, que era um eufemismo para butecos (sim, com u mesmo). Como a grana curta me obrigava a tomar uma cerveja por hora no máximo, aceitei a tarefa de lhes responder algumas perguntas, ajudaria a matar o tempo.

--- Com qual freqüência você pratica sexo?

--- Praticar como? Masturbação?

--- Não, não. Quero dizer, a freqüência com a qual você faz, entende?

--- Ah, se eu fodo muito?

A garota corou e o rapaz assentiu com a cabeça. Ela usava uma blusa grudada no corpo e os bicos dos seios pareciam quase furar o tecido, livres do indesejado sutiã. Uma calça preta de lycra se grudava no corpo suado e ela exalava aromas fortes da buceta. Estava menstruada. Eu podia reconhecer o cheiro a qualquer hora.

--- Bem, e então?

--- Bem, é sazonal sabe. No inverno o treco custa a levantar, é frio. Já no verão o sangue circula mais rápido e o corpo parece pedir por um pouco de ação. Acho que cerca de dez a doze por semana no verão e uma ou duas por mês no inverno.

Eles pareceram rir um pouco e anotaram tudo. Talvez a garota não se recusa totalmente a dar para mim. Eu tinha cerca de cinco por cento de chance, e não sabia se minha última frase me ajudava ou atrapalhava.

--- Com que idade foi sua primeira vez?

--- Deixa eu ver, quando foi isso? Foi na época de uma olimpíada, eu acho. É, foi isso, meu tio tava por aí e resolveu levar todos os sobrinhos pro puteiro. Era em Seul ou Moscou? Não lembro, devia ter uns dez ou catorze anos, depende da olimpíada.

--- Dez ou catorze? Não dá pra ser mais preciso?

--- Bem, é difícil lembrar. Só lembro que a moça ficou mais de uma hora cavalgando em cima de mim e eu pensando em outras coisas pra não gozar. Não queria fazer feio na primeira vez e estragar tudo em cinco minutos. Só que no fim das contas ela aproveitou pacas e eu achei uma merda, mais valia uma punheta. Só no final quando me concentrei na coisa é que vi o que eu estava perdendo.

--- Uma hora??

A garota soltou a pergunta espantada. Ela havia ficado impressionada, eu podia ver pelo rosto dela. Talvez o rapaz comesse ela e não desse no couro direito, ou talvez só estivesse necessitada. De qualquer forma ela começou a balançar as pernas depois que eu contei a mentira e pude sentir que o cheiro que ela exalava estava mais forte. Ela estava ficando molhada. O rapaz ficou constrangido e prosseguiu perguntando depois de anotar tudo.

--- Bem, você se masturba com que freqüência?

--- Olha, aí não sei.

--- Não sabe mesmo?

--- É que geralmente eu preciso de duas ou três punhetas por dia, mas raramente sou eu que as bato, entende?

Essa última pareceu não colar muito. Droga, precisava mentir melhor. A garota parecia ter diminuído o interesse. Lanque apareceu e pedi que ele trouxesse outra cerveja, precisava de combustível pra me animar.

--- O que mais te atrai numa mulher?

--- A buceta.

--- Mas qual a primeira coisa que você olha?

--- A buceta.

--- Como assim, você não pode sair por aí levantando saias.

--- Não, mas adoro observar os contornos e ver como elas se grudam suadas na calça deixando contorno.

Vi a guria se remexer na cadeira e fechar as pernas. Discretamente puxou as pernas da calça pra baixo, desgrudando a xana do tecido. Agora eu tinha certeza, ela queria dar para mim. O cara comentou rindo que eu era mesmo um depravado e a menina simplesmente comentou, com um ar de aparente distância e olhos brilhantes. Ele anunciou que faria a última pergunta, o que me obrigava a me esforçar numa mentira realmente boa para impressionar a guria.

--- Quanto tempo demora em média sua relação sexual?

--- Depende. É difícil sabe. Em geral as mulheres cansam depois da primeira hora. Mas eu só me sinto satisfeito depois da quinta ejaculação. Em geral elas me pedem uma pausa entre uma e outra, mas quando aparece uma de fôlego e eu consigo ir direto, vai umas três ou quatro horas.

O efeito da frase pareceu percorrer o corpo todo da estudante como um calafrio. Ela deu uma estremecida e enrijeceu o corpo todo. As pernas se abriram involuntariamente, como se à espera de algo que a preenchesse. Eu conseguira, ela estava no papo. É claro que se decepcionaria comigo uma vez que eu realmente a levasse pra cama e ela descobrisse a fraude. Mas aí já seria tarde demais, não?

Eles se despediram e foram embora. Senti mais forte que nunca o cheiro de fera no cio impregnado nela quando se foi. Eu, mais que ela, estava também no cio. Achei que isso merecia uma comemoração e ordenei ao Lanque que não deixasse minha garrafa ficar vazia na mesa, assim que ela acabasse, ele trazia outra.

Eram cinco horas quando ela voltou, me procurando.

--- Oi, posso sentar aqui?

--- Quem é você?

--- Sou a moça que te entrevistou, lembra?

Não, eu não lembrava. Eu estava mais bêbado e suado do que deveria. Minha cabeça girava e o estômago doía. Ela pareceu notar e se acanhar. Eu não estava correspondendo à expectativa que antes criara. Talvez por isso meu instinto de homem resolveu que eu precisava impressioná-la.

--- Já viu o monstro do pântano?

--- Não.

--- Pera aí.

Me levantei com sofreguidão. Botei o cabelo na cara. Um copo na boca e virei tudo, fazendo com que a bebida atravessasse a cortina de cabelo, deixando apenas sua espuma branca que escoria do cabelo pelo rosto, pescoço e encharcava a camisa. Eu estava definitivamente bêbado demais, e foi só a bebida chegar no estômago que voltou. Comecei a vomitar tudo ali mesmo, sem notar a expressão de horror e asco no rosto dela. Sua bunda rebolante e saliente saindo do bar foi a última coisa que vi naquela noite antes que enfim apagasse. Infelizmente, nunca mais ela voltou aqui nem, para minha surpresa, nunca mais me procurou. Apenas azar, provavelmente, apenas parte de uma inexplicável maré de azar que eu vinha tendo com as mulheres nos últimos anos e que tão cedo não iria acabar.


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