Retorna ao início
----->contos do fonjic<-----
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998

Priapismo

Acontecera de novo. Era constrangedor. E dessa vez já durava quase uma hora e nada da ereção sumir.

Estava sozinho em casa, precisava de ajuda. Olhava as cores amarelas do tubo de Cebion e pensava, como, como pude fazer isso? Liguei pro Aleph.

--- Alo?

--- Ô Dom Alephito. Como vai? Tudo bem com a suas costas.

--- É vai bem, vai bem. O que contas?

--- Eu, nada... só queria distrair um pouco a mente.

Conversamos algum tempo. Em vão. A ereção não dava mostras de cansaço. Quando ameaçou ceder, Aleph começou a falar em bocetão, o que logo a reanimou.

--- Porra, Aleph!

--- Quê?

--- Não fala nisso porra!

--- O quê? Bocetão?

--- Argh! Não repete essa palavra.

--- O quê Anacreonte? Virasse viado?

--- Não, não é isso. É que... é que...

--- Aha! Já sei! Dom Fabito, Dom Fabito, seu sacana!

--- O quê?

--- Ficasse preso de novo no tubo de Cebion!

--- É sabe como é. A gente põe por curiosidade, pra matar a saudade né. A gente sempre acha que vai conseguir tirar antes que isso aconteça, mas hoje me empolguei, não deu tempo.

--- Porra Anacreonte! Já disse pra não fazer isso, isso vai te dar problema ainda.

--- Só que dessa vez é pior.

--- Por que? O que houve?

--- Já tá assim há quase uma hora, acho que tá ficando roxo até.

--- Putz, que foda.

--- Antes fosse! Mas isso não é o pior...

--- Tem mais?

--- Tem. Lembra a Map? Pois é, ela me pediu pra eu pôr ela num conto, e daqui a pouco ela tá chegando, veio visitar a sede do Giq.

--- Rárrá! Tomarás no rabo bonito, Anacreonte.

--- Aleph, isso não é hora de recitar trecho da bíblia. Me ajuda porra!

--- Já tentasse água gelada?

--- Já!

--- E nada?

--- Nadinha.

--- Hm... jogo de futebol?

--- Tentei. Tava passando Portugal contra Lichenstein na Bandeirantes, mas aí lembrei da filha do Luciano do Vale e não deu certo.

--- Droga. Quem sabe o canal árabe, ou de turfe, qualquer coisa?

--- Não dá, não dá. Já rodei todos os canais da tevê, mas tudo lembrava mulher?

--- Tá doendo muito, não?

--- Porra! Que que tu acha? É apertado esse tubinho, tá doendo pra caralho. Tá latejando tudo.

--- Tenta pensar na aula, sei lá, algo chato.

--- Não dá. Mal começo e lá vou eu relembrando minhas professoras todas desde o primário.

A campainha soou. Um gelo atravessou meu peito e o pânico me dizia que a coisa mais sensata a fazer era ficar quieto, sem mexer, sem respirar, esperando que, fosse quem fosse, desistisse e fosse embora.

--- ...Anacreonte. Ei. Ô. Tá me ouvindo Anaca? Responde algo?

--- Ela chegou Aleph. Ela tá aqui.

--- A Map! Ih... te fudesse meu caro!

--- O que eu faço? A campainha acabou de tocar, o que eu faço?

--- Atende!

--- Mas assim?

--- Põe uma calça jeans e disfarça?

--- Será que funciona?

--- Comigo nunca falhou.

--- Arrá! Dom Alephito!

--- Hmm... depois eu explico, outro dia.

Agradeci a dica, despedi e desliguei. Corri pro interfone e abri a porta do prédio. Até ela subir as escadas eu teria algum tempo. Vesti a primeira camisa e cueca que achei, sujas, pra variar. A calça jeans estava toda enlameada. Bebera a noite inteira ontem e depois caí, caí de novo, caí outra vez, até que, por fim, comecei a rastejar pelo chão do bar. Vesti assim mesmo, tentando disfarçar o volume do tubo de Cebion.

Abri a porta. Ela já estava ali há algum tempo, parecia impaciente. Ela havia me pedido para pô-la num conto meu, mas nenhuma idéia surgira. O que fazer? Não ia por ela num conto meu pra ficar falando dos peitos dela ou coisa assim, o que fazer? Enquanto ela não tocasse no assunto eu não ia ficar bem quietinho.

Ela se aproximou para dar os três beijinhos protocolares e eu, me torcendo todo para ocultar o tubo, torcia do fundo da alma para que ela não notasse o tubo. Deu os três beijinhos e, pior, abraçou-me. Virei-me de lado, encurvei o corpo, abracei o mais de longe possível com o corpo todo torto mas deu certo, ela não notara o tubo.

--- Que foi isso? Cê tá bem?

--- É... é uma dor na coluna, sabe... coisa antiga, vem e volta às vezes.

A resposta não colou muito bem, mas ao menos ia evitar mais perguntas. Eu suava aos montes e o nervosismo era tanto que a ereção já tava quase cedendo.

Ela reclamou do calor. Ia ligar o ventilador quando ela me tira o casaco, expondo o corpo no decote mais generoso que já vi na vida. A ereção ameaçava voltar. Não olhe, não olhe, ordenei-me. Olhei. Dos peitos até o umbigo. Era uma visão panorâmica, o decote era maior que a própria blusa, estreito e alongado. A ereção voltara.

Comecei a suar. Não conseguia falar direito. Talvez bebendo algo eu melhorasse.

Fomos no buteco ao lado. Eu parara de freqüentar o bar por um tempo porque descobrira que a garçonete andava querendo me comer. E o dono do bar também. E os fregueses todos, embora não soubessem, queriam também me comer. Mas deixa isso pra lá, voltemos à história. O dono até que gostou, pôde parar de limpar vômito toda noite e de acalmar os clientes que me exigiam expulso do bar.

Sentamos. Bebemos. Conversamos. Tentei ao máximo evitar falar de livros pra que ela não lembrasse do conto. Nenhuma idéia vinha, nada para ser escrito. Tudo que importava agora era o bar e a cerveja e nós quatro, eu, Map, o decote e a saia.

Bebi muito, muito, mas nem assim o tubo saía. Era até pior agora. Depois de tanta bebida eu precisava urgentemente ir ao banheiro e não sabia ainda como fazer pra dar uma mijada com aquele tubo ali. Pra não falar na dor, que tava insuportável.

Protelei o máximo que pude, mas quando senti que não conseguia nem sequer articular palavra alguma resolvi mijar.

Tranquei-me no banheiro. Olhei em volta procurando inspiração de como fazer a coisa, mas nada, nenhuma idéia. Tentei raspar o fundo do pote, mas demorava muito, além do barulho que fazia. Forcei, forcei muito, mas nada do pote sair. Resolvi fazer assim mesmo. Tirei as calças e cuecas, me acocorei no vaso sanitário e comecei a forçar.

Um luta cruel se travava ali. Dentro do minúsculo pote eu forçava a urina, que desesperadamente tentava abrir caminho. Finalmente consegui. Um primeiro jato esguichou, acertando minha barriga. Logo, outros o seguiram. E começou a jorrar com força, meia dúzia de jatinhos que acertavam em minha barriga, minhas coxas, meu saco, e logo em seguida escorriam pra bunda e caíam no vaso.

Finalmente consegui mijar. Rasguei a cueca ao meio e usei-a para me secar. Botei o jeans. O potinho de Cebion tava quase cedendo agora. Saí do banheiro e sentei-me novamente. A Map perguntou:

--- E aí Anacreonte. E o conto? Já teve alguma idéia prum conto comigo?

Pensei no dia. Pensei no potinho. Pensei em tudo o que ocorrera hoje, buscando idéias para fazer um conto com ela. Olhei as pernas cruzadas e o decote generoso na camisa.

--- Xii... não. Não deu. Não tive idéia nenhuma, mas vou pensar nisso. Eu juro.


----------x----------

Para ler mais deste autor visite também:
http://uretrite.blogspot.com/
http://br.groups.yahoo.com/group/fonjic/

Clique aqui para cadastrar-se e receber contos de fonjic por email
Receba contos de Fonjic por email

Consulte
Spectro Editora
para ler sobre Charles Bukowski