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Com a mão na massa

Todo mundo sabia que ele comia a mulher do padeiro. Inclusive o padeiro.

O pessoal do boteco acreditava que a índole pacífica do padeiro decorria da sua profissão, tantos anos acostumado a servir os outros e preparar aquilo que todos no bairro comiam antes de acordar e depois de dormir, ou vice-versa, algo assim. Bem, tantos anos fazendo isso lhe deixaram acostumado e com esse jeito complacente de permitir que os outros comam aquilo que é dele. E quem duvidasse que ele a possuía podia verificar seu nome impresso na coleira que ela levava no dedo ou na certidão que o padeiro emoldurara e pregara na parede.

Mas o chato é que não contente em comer a mulher do padeiro, não contente em já ter espalhado a notícia no bairro todo, o sujeito ainda ficava se gabando disso no boteco. Era irritante vê-lo horas e horas no balcão, puxando conversa com os outros e, sempre que podia, inserindo no papo alguma coisa relativa aos peitos macios da mulher, ou os ornamentos capitais do padeiro, ou o barulho que a cama fazia ou qualquer coisa mais desinteressante.

Aquilo me irritava tanto que me decidi sacanear aquele sujeito. Fiquei horas e horas vendo ele beber e pensando num jeito, e quando ele se foi dizendo que ia dar mais umazinha antes que a padaria fechasse, continuei lá pensando e mais alguns dias pensando. Não adiantaria nada tentar instigar o marido traído pois ele era incapaz de qualquer reação. Precisava ser de outra forma. O cara era metido a Casanova, mas no fundo era mesmo um baita amador sem estilo ou inteligência. Era com isso que eu tinha que trabalhar para arquitetar minha maldade.

A coisa foi mais simples do que eu esperava. Bastou esperar um pouco e um dia, no bar, enquanto ele se gabava da coisa molhada que encontrava no meio das pernas perfeitas dela, entrei na conversa e em tom desafiador disse que isso não era nada. Ele respondeu furioso e antes cobrou uma explicação maior de mim. Falei que o negócio quente era pedofilia, que tinha um amigo que agarrara uma menina de onze anos e dissera que era o máximo. O cara ficou cabreiro, pensativo. Argumentou que isso dava cadeia e eu disse. "que nada, não dá nada. O esquema é que a menina é parente dele, então fica tudo por isso mesmo".

O sujeito se calou e não falou mais nada enquanto estava no bar. Era um amador mesmo, tinha caído na armadilha nem se dera conta.

Em menos de um mês a polícia apareceu para levá-lo. Instigado por uma vozinha no fundo que o obrigava a provar sua superioridade, começou a tentar comer a filha do padeiro, que tinha onze anos. Quem descobriu foi a mulher, que chegou em casa um dia e encontrou o cara no quarto da filha fudendo e gritando. O escândalo foi geral e o cara foi preso por estupro.

Mas aí é que as coisas começaram a ir mal pro padeiro. A mulher tudo bem, mas o cara ter comido a filha dele ele não perdoava. Passou a fechar a padaria mais cedo e ir pro boteco beber até tarde. Chegava em casa e nem olhava para as duas. A mulher que já não dava pra ele há muito tempo se encheu daquilo e pediu o divórcio. Uma vez morando sozinho os negócios do padeiro afundaram de vez. A padaria não tinha mais hora pra abrir e o pão virou uma merda. Passava o dia inteiro bêbado reclamando da vida, enquanto a mulher e a filha, que moravam agora num apartamentinho alugado, começaram a trabalhar a noite nos puteiros para terem como ganhar dinheiro.

Um dia ele bebeu tanto que acordou num quarto cheirando a mofo e urina, numa cama cheia de pulgas, pelado entre a mulher e a filha também nuas. Ele tinha pago adiantado e os três passaram a noite inteira fudendo até que apagaram. As memórias começaram a vir como explosões, fragmentos visuais dele com a mulher, dele com a filha e da filha com a mulher. Sentiu uma náusea que vinha do fundo e se revirava, contorcia seu estômago e mente, em parte por culpa da bebida. Olhou de novo para as duas e pensou, "que merda". Sentiu outra fisgada no estômago e fechou os olhos para dormir, esperando que a dor passasse.


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