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Flor em pó

1

Uma chuva fina caía no ferro-velho quando ele entrou. Era primavera. Uma maldita primavera cinzenta, que nunca parava de chover e fazer frio. O inverno esquecera-se simplesmente de ir embora.

Santos andava no meio dos carros enferrujados com poucos resquícios ainda de tinta. O céu estava escuro, carregado de nuvens, e o chão era barro puro. Lama negra, suja de óleo e chepas de cigarro. Pequenas porcas, parafusos e pecinhas de metal afundavam sob seus tênis surrados enquanto ele caminhava. Vez ou outra parecia achar o que estava procurando e se metia num monte de carcaças velhas, esmagando com os pés as peças de plástico. Santos contrastava no meio daquele monte de metal retorcido. Seu cabelo loiro e curto, já encharcado de água, era a única coisa realmente com cor por ali. A fumaça que soltava dos pulmões, o mais próximo do branco que tinha por ali.

O jeans, já furado, estava cheio de manchas de óleo que ele conseguira nesses três dias em que estava circulando pelos ferro-velhos de São José. São José da Terra Firme, a bosta de cidade que seus pais lhe ensinavam sempre a chamar de lar. Não que ele se importasse. Não que ele desse a mínima pra isso agora.

Na camisa preta, levava no peito a estampa de um demônio, devorando os exércitos de cruzados. Tirara a figura da capa de um disco. Só a música lhe importava agora, só isso lhe restara.

Olhou a placa e não teve dúvida. Achara. Depois de três dias conseguira encontrar o carro que procurava. Desde que seus pais morreram, a única pessoa da família que ainda aparecia era um tio bêbado por parte de mãe, mas até mesmo ele se recusara dizer que destino tinham dado no carro depois do acidente.

Ele queria ver. Precisava. Precisava. Ficou em pé observando com receio o carro. Procurara por três dias, no entanto agora algo parecia segurar seus pés no chão dizendo "não vá". Acendeu outro cigarro na brasa daquele que terminava. Só agora notara o quão frio estava. Estava muito frio e a chuva parecia querer aumentar. Santos tinha dezenove anos agora, e a única coisa que queria era simplesmente fazer aquilo que se tornara sua obrigação pessoal, enfrentar os fatos, se despir do passado e ir em frente. Até quando conseguiria, não podia dizer.

Criou coragem e avançou por fim até o carro, o túmulo que levara seus sonhos. Estava realmente destruído, igualzinho ao que lhe disseram. Outra vítima da BR. Outra vítima do maldito progresso que chegava cada vez mais, devastador, aniquilador, caótico. O progresso que impulsionava as crises e tragédias, os grandes massacres em massa, as grandes ondas de fome no mundo, as devastações. Olhou as ferragens e o estofamento à cata de algum resquício de sangue, reelembrando a chuva da sexta-feira passada que matara seus pais.

Olhou em volta três vezes, pra ter certeza que ninguém o olhava. Nada, ninguém, completamente deserto, a não ser pelo dono da espelunca que assistia TV dentro de uma guarita a quinhentos metros dali. Só então conseguiu chorar. Apertou contra as mãos um pedaço saliente de metal e chorou com raiva, fúria, até que começou a socar e chutar aquilo que um dia fora o carro. O carro 76, onde seu pai lhe levara à escola quando criança, onde Santos transara pela primeira vez com uma garota, rápido e assustado demais para que conseguisse se lembrar de alguma coisa daquele dia. O carro sujo onde o cachorro subira pra se salvar das águas na enchente de 83. Ajoelhou-se na lama. Só restava chorar, nada mais.

Por uma fresta na lataria, viu enganchada na molas do fundo do banco a corrente que seu pai levara sempre no pescoço. Secou os olhos e tentou forçar o metal para alcançá-la. Sem sucesso. Com um pedaço de arame que achou, conseguiu pescar a corrente. Uma cruz estava pendurada. Uma bosta de cruz jazia ali sorrindo, zombando de sua cara. Abriu a corrente e atirou longe a cruz, torcendo pra nunca mais vê-la. "Onde está a porra do teu maldito deus, seu velho puto? Cadê a merda do teu deus que não te salvou, seu maldito!!". Chorou de novo, sabendo que seu pai não poderia responder essas perguntas. Pôs a corrente no pescoço e foi embora. O passado estava pra trás agora.

2

Passou-se seis meses, mas poderiam ser dez anos agora. Com o dinheiro da casa onde moravam, conseguiu se mudar pra ilha. Comprou um lugar menorzinho, de madeira, mas pra ele servia. O dinheiro que sobrou aos poucos foi gasto em bebida e pó, mas agora, seis meses depois, nada mais restara. Raquel, a menina, acabara de cheirar o último restante que ele deixara no espelho.

Conseguira levar legal a coisa. É levara muito bem. Morava no meio do mato, numa casinha de madeira no caminho pra lagoa. Conhecera muita gente no verão, gastara muito dinheiro com isso. Gente que ele ia precisar agora que a grana estava terminando, o inverno chegando e Raquel grávida. A própria Raquel ele conhecera também no verão, e apesar de estar ali com ele naquele chiqueiro, Santos sabia que podia contar com a família dela, que não ia deixar a filhinha de dezesseis anos passar fome na rua. Só torcia pra tentar conseguir também um boca nessa história.

Seus pais eram agora fantasmas que não mais o assustavam, e o tio bêbado, Rogério era o nome daquele filho da puta, nunca mais aparecera pra incomodar. O velho alcoólatra tentara extorquir dinheiro dele, ameaçando contar à polícia sobre suas festinhas. Uma boa surra deu fim na coisa, apesar de Santos ter levado a pior nessa pois, apesar de bêbado, o velho ainda brigava bem pra caralho.

A casa tinha um quarto, cozinha, sala e um banheirinho. Passavam a maior parte do tempo na sala, onde estavam agora, quando abriram a porta. Por que diabos Raquel nunca aprendia a trancar a porta. Era Carlos, com seu sotaque tipicamente ilhéu, a roupa preta, e os cabelos compridos escorrendo pelo corpo seco, magro de se ver o osso.

--- Daí San --- era como Santos preferia ser chamado --- Tá ligado naquelas parada com o Negão?

--- Deu certo?

--- Disse pra tú pintar qualquer hora lá.

--- Legal, cara! --- Apertaram a mão com força, fazendo um ruído de tapa que fez Raquel começar a rir.

--- Já tá locona, ela?

--- É claro! Vai uma cerveja? --- San ofereceu a cerveja mais por delicadeza, é claro. Queria mais era que Carlos fosse logo embora pra que ele e a Quel pudessem transar enquanto ela ainda estivesse ligadona. Com o tempo, você só consegue ter prazer quando tá ligado. Ele não estava lá ainda, mas de qualquer forma uma boa cheirada fazia a coisa parecer bem melhor.

--- Não tens um pó pra me descolar aí?

--- Não cara, acabou. Senão eu até te arranjava.

--- Pô...

--- É sério cara. Acabou mesmo, senão eu te dava tudo. Tu sabe que eu gosto de ti pra caralho, meu. Tu é minha família, cara, meu irmão.

Se abraçaram. San deu um beijo no rosto de Carlos, apertaram as mão novamente, ele pegou uma cerva e foi embora. Santos trancou a porta e olhou para a Raquel, sentada no Sofá com uma saia que deixava as coxas de fora.

--- Agora gatinha, tu não me escapa.

E naquele dia San não quis mais pensar nos pais, problemas, futuro ou qualquer tipo de outra incomodação.

3

Duas horas da manhã. Tinha que ir. Beijou suavemente o pescoço de Raquel, que dormia ao seu lado, e saiu da cama sem que ela acordasse. Estava frio demais e Raquel dormia sem nenhuma roupa. Quis puxar mais um cobertor, mas viu que os dois que tinham já estavam sendo usados. Tirou o casaco de couro que usava e cobriu-a. Iria estar andando na rua, não ia precisar.

Saiu de casa, trancou a porta. Um casa de madeira não dava pra Raquel a segurança que ela precisava, amanhã ela iria junto com ele para não ficar sozinha. Mas hoje era a madrugada de quinta pra sexta e de manhã ela trabalhava cedo no supermercado.

Ainda sentia no boca o gosto amargo que o pó que cheirara havia deixado. Precisava conseguir um pó mais barato. Talvez trabalhando com o Negão ele lhe deixasse levar uma dose pra casa um dia ou outro.

Apertou o passo, ainda tinha que atravessar todo o morro e queria estar lá às três, hora que o Negão geralmente parava de vender o bagulho e ia pra casa.

4

Eram quinze pras três quando ele chegou na Lagoa. Procurou por meia hora, mas nada de achar o cara. Lá pelas tantas entrou num bar de rock e encontrou o Carlos e o Gaiola apagados numa mesa, bêbados e chapados.

--- Carlos, Carlos, seu porra!

--- Daí San, San , meu irmãozinho. Tá a fim duma parada?

--- Tô atrás do Negão, porra. Cê não disse preu procurar ele?

--- Shhh... shhhh... fala baixo. As ondas têm ouvido!

--- Que cê quer dizer? --- perguntou San quase sussurrando.

--- Ele ficou sabendo que a polícia ia estar por aí hoje. Resolveu não vir.

--- Ah não... bosta!

Nisso ele explodiu rindo, apontando pra cara de Santos.

--- Hihihihi, Cê veio no dia errado cara, hihihihi, vai ter que voltar amanhã!

Bosta! Por mais puto que estivesse, San tinha que concordar com Carlos, havia se dado mal.

--- Cê tem dez pila aí?

--- Pra quê? --- perguntou San.

--- Tem um sujeito aí vendendo umas cartela de Prozac. A gente tá juntando uma galera pra rachar a coisa e tomar tudo na casa do Guto quando amanhecer, e cê sabe como é, o guto sempre tem uns uísque e uns baseado pra liberar pra galera. Tá indo um monte de guria, vamo lá porra.

--- Sei não, cara. Tem a Raquel cê sabe.

--- Não esquenta. O pessoal é massa. Ninguém nunca vai saber de nada.

O Gaiola, que a essa altura tava acordando, esfregou os olhos e começou a berrar:

--- San! San, San, San, San! Meu irmãozinho querido, vamo pega umas puta por aí hoje cara.

Carlos, envergonhado, sentou-se na mesa, como se assim fosse chamar menos atenção, e gritou sussurrando:

--- Cala a boca, seu puto! Cê sabe que as amigas da Raquel costumam vir aqui!

--- Foi mal, foi mal, cara! Só queria matar a saudade.

--- E aí San, vai na festa comigo e o Gaiola ou não? --- interrompeu Carlos.

--- Quem vai?

--- Eu, o Gaiola, o Guto, a Joana e a Jéssica, que são aquelas duas gêmeas de bunda arrebitada lembra?, mais a Cris e a Sílvia, só que a Sílvia o Guto já disse que quer agarrar, então esquece. Só falta mais um, cara, daí a gente fecha certinho quatro contra quatro.

Não era má idéia. San pensou nas gêmeas de bunda arrebitada e tornou a pensar em Raquel. Ninguém ia saber de nada. A festa seria discreta, oito pessoas só. E além do mais, ele não precisava necessariamente agarrar as meninas. Bastava curtir um pouco da erva e do uísque do Guto, junto com o Prozac, que já tava legal. Pra não falar que a Cris e a Sílvia sempre tiravam a roupa pela casa quando ficavam doidonas.

--- Tá legal, cara, tô nessa.

--- Fechou!

Pagou os dez pilas pro Carlos, que entregou pro Gaiola, e ficaram sentados na mesa esperando o resto do pessoal. Se voltasse agora ainda chegaria em casa antes da Quel acordar. Mas ela não iria se incomodar de ele não estar quando ela saísse pro trabalho. Poderia dizer que estivera trabalhando com o Negão. Por que todo mundo sempre tinha um amigo chamado Negão, afinal? O cara nem sequer negro era. Bem, essa seria um longa noite.

5

Eram cinco e meia. Todo mundo entrou no carro do Gaiola e partiram. Caralho, oito dentro de um chevette 86. Estaria insuportável, se não fosse as meninas estarem indo no colo. Gaiola dirigia, atrás iam Guto, Carlos e San, com Cris e Sílvia no colo. As gêmeas, Joana e Jéssica, dividiam o banco da frente. Guto já estava semi-atracado com Sílvia, e suas mão deslizavam perdidas pelo mar de pernas que era o banco de trás. Cris estava dividida no colo de Gaiola e San, que deslizava as mãos pela barriga da moça e se inebriava nos cabelos compridos cacheados que ela tinha.

...

Eram seis horas horas quando chegaram. Guto estava sem uísque, mas tinha ainda bastante cerveja na geladeira. E erva, é claro, que nunca faltava.

A casa ficava de frente pro mar, bem deserta, isolada dos vizinhos. Logo foram pondo um disco dos Replicantes, que seria seguido por outro dos Garotos Podres.

Em meia hora, Guto já tinha sumido com a Sílvia. Começaram todos a beber e fumar. Tinha duas bagas de Prozac para cada um. Cris começou a tirar a roupa e, embora já não fosse mais tão inteira quanto ano passado, ainda era muito gostosa. As gêmeas disseram que só tiravam a roupa se os rapazes tirassem também. San não gostou muito da idéia, afinal estavam os três com os olhos pregados na Cris, que corria pelada pela casa, enquanto tentavam disfarçar a ereção. Mas, como as gêmeas também tinham um corpinho perfeito, logo concordaram e ficaram todos os seis pelados na casa.

San, sentado no sofá, dobrou os joelhos, de forma que a ereção não ficasse tão à vista. "É só isso" pensou "vou ficar aqu, sentado, curtindo meu barato, e só. Depois vou pra casa. Ver minha mulherzinha". Já tinha tomado duas cervejas quando pegou o baseado. Jogou os dois Prozac goela abaixo e começou a tragar com força o fumo. Ficou tonto e apagou.

...

Acordou com vontade de vomitar e se segurou. Gaiola pegara Joana e estava num canto. Os dois transavam enquanto Carlos assistia se masturbando. San estava deitado no sofá, com a cabeça no colo de Jéssica. Ela lhe dava doces beijos na face e ele confuso não sabia o que fazer. Guto e Sílvia ainda estavam trancados no quarto. Gaiola e Joana Pegaram a chave do carro e disseram que iam dar uma volta. As meninas estavam super excitadas, e foi de Jéssica a idéia de rebaterem o sofá da sala para virar uma cama de casal, onde os quatro pudessem ficar.

San, que só pensava em Raquel, aproveitou que as meninas foram ao banheiro enquanto ele e Carlos arrumavam o sofá-cama-para-quatro e disse:

--- Pô Carlos! Sei que é mal, mas eu não posso, cara.

--- Ah, qual é? Vai ir embora?

--- Não, não, faz o seguinte, vou fingir que apago aqui no canto, mas daí cê vai ter que pegar as duas. Pode ser?

Carlos não conseguia se conter de decepção, mas só de pensar no estrago que aquelas duas fariam juntas na cama, logo concordou.

--- Pode ser cara, sem problema. Mas você vai ter que me arranjar camisinha.

San tirou da carteira duas camisinhas com a embalagem surrada. Nunca as usara, talvez por isso seria pai em breve. Não se arrependia também. Entregou para Carlos as duas unidades, já sem lubrificante por causa da embalagem furada. Mas estavam usando só por etiqueta. Nenhum deles se preocupava ainda com isso.

San deitou e fingiu dormir, enquanto Carlos suava e ofegava com as duas por quase três horas. Por fim todos dormiram.

6

Eram duas horas da tarde quando San acordou. Os outros ainda dormiam. Jéssica o abraçava.

Ele se desvencilhou, saiu da cama, vestiu a roupa em silêncio e foi embora. Sentia muito frio e se amaldiçoou por não ter levado o casaco. Tinha que ir logo senão o convenceriam a ficar mais uma noite. Caminhou meia hora até o ponto, esperou mais meia, pegou o ônibus e partiu.

Do centro, outro ônibus para casa. Pensava na loucura que tinha feito. Pensava no que afinal valia a pena, o que era real. Por que a festa? Por que não? Por que não ter aproveitado a noite com Jessica? Não era, afinal, egoísmo se prender a Raquel?

Mas mais que qualquer coisa, ele a amava. Não queria perdê-la, nem magoá-la. Mais do que isso, era ela quem trabalhava e trazia dinheiro pra casa por enquanto. Embora o esquema do Negão pudesse dar bastante grana, não sabia quanto tempo ia agüentar. E tinha mais, ele contava com a grana da família dela para poderem viver. É, definitivamente a amava.

Eram quase cinco horas, o sol em breve iria se pôr, quando chegou em casa. Abriu a porta, tendo o cuidado de trancá-la atrás de si quando entrou. A casa parecia intocada, igualzinha a quando saíra, o que era estranho. Nenhum sinal de farelo de pão na mesa onde Raquel tomava o café da manhã. Foi até o quarto. Do lado da cama estava sua jaqueta. Couro preto, sua única jaqueta. Vestiu-a. Em cima da TV estava ainda a roupa com a qual ela viera na véspera.

Alguma coisa estava errada. Definitivamente algo não estava bem. Mexeu nas cobertas da cama e logo viu, no meio da cama, uma mancha vermelha, com uns dez centímetros de tamanho. Sangue seco. Sangue.

Não podia ser. Raquel não podia estar menstruada. Não, não podia. As hipóteses gritavam na cabeça de San, mas ele se recusava em ouví-las. Correu até o banheiro. Porta trancada. Chamou, chamou, gritou, em vão, nenhuma resposta.

Meteu com força o pé na porta de madeira, cuja fechadura cedeu como se fosse isopor. Lá dentro, no chão, ao lado de uma gilete, estava o corpo branco e sem vida, já rígido, de Raquel. Dos pulsos saíam dois filetes de sangue já coagulado, indo em direção ao ralo. No meio das pernas, outra poça de sangue havia se formado, indicando que algo dera errado.

O rosto, retorcido, num lamento de dor e tristeza, estampava dois olhos abertos, vítreos, que olhavam fixos para o infinito, como procurando uma resposta, um porque.

Santos agachou-se ao lado do corpo, chorando. Sacudiu, sacudiu. Nada, era um boneco sem vida. Começou a xingá-la e socá-la, só parando quando se deu conta do estrago que fazia no corpo, e no que poderiam pensar depois.

Lembrou-se dos pais. Lembrou-se dos sonhos perdidos, roubados. Lembrou-se do futuro que nunca lhe permitiria uma chance, uma tentativa.

Enxugou as lágrimas, sentou-se na sala e começou a fumar. Começou a rir. Estava em pânico. Sabia o que deveria fazer. Pensou em fugir por um momento, mas não. Primeiro deveria chamar a polícia. Depois agüentar o tranco, a pressão da família dela. Então, só então, venderia a casa para cruzar de novo a ponte. A ilha havia sido ingrata com ele, só mais um lugar que roubara seus sonhos. Voltaria ao continente. Mas não à São José que seus pais amavam. Desse vez cruzaria a ponte para conhecer o Brasil, conhecer o mundo. Em algum lugar poderia talvez a realidade permitir que ele voltasse um dia a sorrir, a sonhar, a respirar. Algum lugar, algum dia, num futuro que talvez nunca viesse.


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