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A história da humanidade em zero partes

Sete anos. Eu era moleque de sunga na praia e lembro de ter passado por mim a mulher mais bonita do mundo. Eu não tinha na época a mínima idéia do que fazer com aquilo, mas aquelas mulher tinha de fato PERNAS incríveis e COXAS incríveis e um volume no meio das PERNAS E COXAS mal e mal escondido pela calcinha do biquíni que fazia alguma coisa mais forte do que eu despertar dentro de mim. Uma espécie de vontade de chorar sem saber porque. Algo que doía muito e era bom ao mesmo tempo. Algo que me dava vontade de me jogar na areia e ficar tendo convulsões musculares.

Eu jamais poderia saber o que era isso aos sete anos, pois nem mesmo hoje consigo ao certo dizer. Mas sei que dali em diante aquela mulher passou a representar a perfeição. Aquilo que eu, por algum desconhecido e misterioso motivo, deveria batalhar minha vida para ter. Aquilo que dava sentido a um mundo onde sentidos não existem ou, quando existem, se desmanchavam no ar. Aquilo que justificaria crescer, estudar e trabalhar. Aquilo que seria a justificativa final para tudo.

Anos mais tarde, na quinta série, eu tinha dez anos. Aquele algo ganhou nome. Meu caríssimo colega de aula Wagner um dia se virou para mim no meio da aula de português e falou: a professora tem um bocetão!!!

E era verdade. Havia um volume no meio daquelas pernas joviais que pareciam emitir uma canção solitária e aconchegante, um odor insensível que fazia o pulmão se encher de um ar inebriante, de um prazer que só mais tarde eu descobriria nos gargalos do álcool. Daquele dia em diante a coisa ganhara nome. Um nome que se marcaria como um anagrama em meu tecido cerebral e seria matriz geradora para toda a posterior evolução do desenvolvimento sináptico e intelectual. Pois a palavra buceta se armazenara em meu cérebro formando uma geometria de sinapses, que dali em diante serviu de modelo para toda a posterior replicação e armazenamento de qualquer conhecimento. Boceta. Boceta. Buceta.

Ali se consagrou o fato que, a despeito das dúvidas de todo mundo em casa, viria se confirmar: eu não era nem viraria viado. E ali também se desenhou o gancho para que em minhas memórias eu relembrasse aquele aroma de outono na praia, uma aroma de outono não do cachorro de Ray Bradbury, mas da coisa que eu vira aos sete anos e agora adquirira nome: BUCETA!!!.

E essas certas indistinguíveis e intangíveis sensações são tão marcantes que lembro de aos sete anos, ainda atordoado pelo impacto daquela mulher em forma de coxas que por mim passara, ter ido ter com o filho dela e perguntado o que era aquilo, o que a mãe dele era.

A resposta do pequeno moleque era de que a mãe era engenheira mecânica. E eu cresci com a ilusão de que era aquilo que eu queria do futuro, que aquilo só podia ser a melhor coisa do mundo, algo no qual você se deita entre as pernas e não quer nunca mais sair.

E foi desde os meus sete anos de idade que cometi o primeiro erro estatístico da vida, um erro de amostragem, mais precisamente, pois descobri a duras penas que não era possível fazer uma generalização a partir de uma amostragem de um único espécime.

Daquele momento em diante dediquei minha vida aos estudos e com folga consegui sucesso em entrar, dez anos mais tarde, no curso de engenharia, apenas para descobrir que o que eu vira na infância não era a regra, mas sim a exceção.

Tudo que eu vi lá não era a beleza que eu conhecera na infância, apenas a feiúra. E por perder o parâmetro que diferenciava a beleza da feiúra minha própria vida entrou em colapso e desci aos porões mais úmidos da condição humana, experimentado as mulheres mais feias da humanidade como quem acha natural a feiúra. Pois feiúra tornou-se para mim sinônimo da vida e natural era que eu quisesse me imiscuir a ela.

Até que tudo chegou a um ponto em que as coisas não poderiam mais continuar do jeito que estavam e tudo precisava mudar ou piorar de vez. A decadência se tornara total e exigia de mim uma ação. Mas esses são eventos que envolvem um padre, uma sacristão manco e uma anã albina transando no altar de conhecida igreja. Mas essa é outra história e por enquanto é melhor não falar sobre tais assuntos.


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