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Contos para velhas solteiras

Acho que foi num natal, ou na páscoa. Me masturbava alucinado, quando um jorro de luz desceu do céu atingindo a clareira no mato onde eu estava. Devia ter uns quinze anos, ou por aí, e nessa época costumava a me masturbar no matagal nos fundos de casa, pois era mais seguro do que dentro de casa, onde sempre havia o risco de ser pego. Como a grana, já naquela época, era curta e nem sempre sobrava uns pila pra revista de sacanagem, tinha mesmo era que usar a imaginação.

E acho que foi isso. Era sol do meio dia e meio, ainda não tinha almoçado, e a dor de estômago piorava a ereção, fazendo com que aquilo se estendesse já por uns trinta minutos. Fome, sol, cansaço. Começou a dar tontura. Como já tinha pensado em todas as coleguinhas de colégio, precisei variar meu repertório imaginativo um pouco mais que o normal. Imaginava que estava comendo Gaia, sim Gaia, a própria terra, mestiça, de boca carnuda, coxas grossas e maltratadas. Entrava e saia daquelas carnes como um louco, salivando, suando, gemendo, quase desmaiando no sol a pino.

Foi aí. Bem aí, quando estava quase gozando, que o facho de luz atingiu o solo com força ao meu lado, e nele, suspenso no ar, vi refletida a mais bela mulher do mundo.

Desmaiei.

...

Acordei gozado, uns quinze minutos depois. Limpei no mato aquela porra grudada, arrumei a roupa e voltei pra casa, tonto, ainda, onde já me esperavam para o almoço. Mas aquela mulher, nunca esqueci, gravada que ficou sua imagem forte e sensual em meus olhos.

Passou o tempo. Daquele dia em diante soube que seria escritor. Não só isso, soube também que jamais me aquietaria e passaria a vida inteira atrás de mulheres, na esperança de capturar aquele brilho que um dia me escapou por fraqueza e tontura. Desde a mais bela Antígona, até a mais simples Soraia, todas precisei experimentar.

E é justamente aqui que começa a história. Quatro anos depois disso que vou chamar de O Episódio, estou num bar, já irremediavelmente preso a única coisa que viria a me dar um pouco de amor ou felicidade no mundo: a bebida. Eu, o balconista, grande Zé, comedor de cabras dos bons, Mamica, cobrador do carro das onze horas e Sabugo, que por algum motivo não gostava do apelido. Entra no bar a mulher mais linda que já pisara naquele chão cuspido: seca, raquítica, pele pálida, osso puro, cerca de quarenta anos (ainda nova) e uns dentinhos tortos mas com todos na boca. O cabelo cortado a máquina, ou com tesoura em casa, não sei, o importante era que dava ao bar um perfume vaginal e um visual quase que caricatural, como revista em quadrinhos. Gibi.

Quando ela entra o bar todo pára. Quatro homens. E ela ali, curtindo, sentindo a pele sendo comida pelos olhos. Daquelas que o sujeito sente cada osso do corpo quando tá galopando. Puxou um banco. Sentou. Uísque - ordenou - sem gelo.

Essa era das minhas. Dezenove anos. Época em que estamos comendo até monumento se achar um buraco. Já me masturbara várias vezes com a imagem da justiça, ou a mulher da república que vinha estampada em notas e moedas.

- Quer um gole de cerveja?

- Quer uma chupada?

Enigmático. Nunca consegui entender gente que responde uma pergunta com outra pergunta. Em todos casos pedi um copo e servi a cerveja.

O bar ficou aquele silêncio. Todos parados, assistindo ela beber. Dava gosto. Tinha uns pernões grandes que fugiam da saia. Virou o uísque e rebolou toda, dando risinho. O pau de todo mundo se levantou e saudou aquele monumento. Havia um silêncio cortante de expectativa. Eu havia dado a partida e agora devia ir até o fim. Esperavam um fraquejo qualquer para poderem se meter na conversa.

Eu falava besteiras. Falava sem parar, nervoso e agoniado. Ela me olhava séria, rindo de vez em quando, sacudindo os poucos peitos que tinha quando fazia isso. Dez minutos desse ritual e já tínhamos virado duas garrafas de cerveja. A noite era fria, duas da manhã, inverno. Ela disse:

- Vem cá. Sai desse banco e me lambe!

Levantou a blusa deixando a mostra os seios murchos, apesar de pequenos. Senti os olhos de todos sobre mim. Passou na mente a dúvida se ela era de fato mulher. Meti a boca nos peitos e a mão na buceta, confirmando, sim, era mulher. Chupei. Chupei a pele áspera e amarga com toda a inexperiência que dezenove anos nos ensinam a ter, o que acabou me rendendo uma foda no banheiro. Estava menstruada, pra variar, e foi embora me deixando todo imundo e com uma conta no bar.

Saí do banheiro. Mamica e Sabugo discutiam um assunto qualquer, fingindo não me verem. Zé das Cabras me ofereceu outra cerveja, num sorriso cínico de aprovação. Ela foi embora a pé, do jeito que veio. Lembrei do único beijo que dera na boca dela e da descoberta de que me enganara, faltavam dois dentes em cima e um embaixo. Mas até que não era mal.

Eu me saíra bem como um jovem. Cumprira meu dever. Era meu dia de sorte, por mais azar que fosse. E apesar da conta do bar, da conta com remédio e do incômodo que deu até curar a doença que ela me passou e deixou pau e saco cheio de bolhas por seis meses, aquele foi meu dia. De todas as mulheres, foi aquela a única que lançou sobre mim uma fagulha do pingo de perfeição feminina que eu vira naquele dia de sol, e que minha vida toda continuei perseguindo.


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