Viver até que ocorria
- A vida não é o caminho, mas sim o peso que carregamos. Embora o levemos sem ajuda, ao menos não andamos a sós.
- Sarah... você está bem? - perguntei a ela enquanto ela me balbuciava estas palavras incompreensíveis de delírio moribundo, típico dos momentos que antecedem a morte.
- Anaca... eu tô vendo o inferno cara.... ô meu... é lindo!
- Shhh, shhh. Calma.
- Sério meu, é lindo. Tá cheio de mulher e cerveja aqui.
O médico dissera que deveríamos evitar que ela falasse ou fizesse qualquer outro esforço, mas aquela descrição era irresistível demais para que eu pudesse evitar.
- Fala sarah, diz mais, como é?
- Ahhh... Anaca...
- Ahn... fala, fala....
- Anaca...
- Tô aqui, tô aqui!
- Meu... Lugar do caralho!!!
Soltou um último suspiro enquanto o apito das máquinas anunciavam a morte esperada. Um cartaz na parede gritava "EM CASO DE EMERGÊNCIA APERTE O BOTÃO". Fui embora e deixei as máquinas lá histerizando. Nada mais adiantava. Morrer, era pra isso que nascíamos.
Desci as escadas acendendo meu cigarro. Fiquei pensando nas palavras de Sarah, sobre viver e o peso da porra toda. Nada mais fazia diferença. Trepar era serviço sujo. Viver era trabalho duro. Pensar era maldição, subserviência um prêmio.
Resolvi esquecer a porra toda e me concentrar em suas muito últimas palavras. "Lugar do caralho!!!" ela dissera. Ééééé... o inferno devia ser massa mesmo. Comecei a pensar em todas as mulheres e cervejas do inferno. Ééé... esse era um pensamento legal, legal demais até, talvez. Meu priapismo já dava mostra de sinais de vida.
Saí do hospital e entrei no primeiro bar que entrei. Eram quatro da tarde e o ambiente estava esfumaçado, cheio de mulheres no balcão. Uma placa na entrada dizia "Uisqueria Tio Patinhas". Pedi um uísque. Uma mulher veio, loira, lá pelos quarenta, e disse "Está sozinho gatão?". Ééé... talvez até a vida não fosse tanto assim um peso.
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