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Poesia, fêmeas e outras loucuras

Eu, filho do carbono e do amoníaco
monstro de escuridão e rutilância
sofro, desde a epigênese da infância
a influência má dos signos do zodíaco

Augusto do Anjos

Burn, burn, yes ya gonna burn
Rage Against Machine

É, realmente Augusto se fora. Partiu, deixando um rastro literário impregnado em nossa memória. Augusto dos Anjos, Álvares de Azevedo, esses sim, notáveis.

Nada como a morte precoce para fazer surgirem os verdadeiros heróis. Onde está nosso Beethoven? Nosso Mayakosvi, nosso Monty Python? Oh, bem, não sejamos egoístas... dividamos nossos talentos com os de outras nações também, isso supondo que somos, de fato, uma nação.

Mas como eu ia dizendo... ah, sim, boceta! Falávamos de boceta, ou melhor, bucetas, quando comecei a divagar sobre o velho e bom Augusto. A natureza parece, de fato, ter feito uma grande sacanagem à humanidade. Se observarmos a natureza, os mamíferos em geral seguem o mesmo esquema que a gente, de vez em quando a fêmea entra no cio, aí todos os machos têm que estar prontos para a ocasião e se debater e brigar para ver quem terá o divino direito de chegar naquilo que é o início e a finalidade de todos, a buceta.

Entre nós, humanos e primatas em geral, a coisa é um pouco diferente. Talvez por ser o macho um pouco mais insistente e chato que de outras espécies, ou ser a fêmea mais suscetível a sedução, é comum a ocorrência o ato sexual mesmo fora dos períodos de fertilidade da fêmea.

Uma vitória para nós, espécimens machos, uma vez que, apesar de não termos os incômodos da menstruação ou gestação, somos impelidos vinte quatro horas por dia a um estado de tensão sexual alerta à espreita de saborosas fêmeas que possam saciar nosso impulso biológico primal. Isto é, nós homens, apesar de privilegiados pela natureza em muitos aspectos, recebemos em contraparte a grande sacanagem que é o estado de cio constante e intenso a que somos submetidos. Embora em nós, primatas, o desejo da fêmea possa ser quase comparável ao do macho, vemos ainda a capacidade bem maior da mulher de se resignar a abstinência sexual do que o homem.

Freiras e padres, por exemplo. Ambos fazem voto de castidade, com a diferença que, enquanto as freiras, à custa de muito sofrimento, cumprem com seus votos, inúmeros são os casos de padres que se aliviam com a mulheres da vizinhança ou jovens sacristãos. Isso pra não falar dos velórios em que, mal o defunto repousa os ossos no caixão, o padre já se debruça babando sobre a pobre viúva.

Nesse momento, meu copo de Gin-raná, Gin com guaraná, me olha com desdém e deboche exclamando:

--- Ihhh, anacreonte, meu velho, você se ferrou de novo. Está aí sentado, escrevendo essa droga de texto e se esqueceu de novo de ligar praquela mulher que você vem tentando, sem sucesso, comer. Agora você vai ter que esperar mais uma dia até poder ligar de novo e tentar sair com ela a noite.

--- Ah, cala a boca, você é apenas um copo de bebida, você não sabe de nada. Se você continuar me aborrecendo vou trocar o guaraná por tônica diet e o gin por cachaça.

--- Calma, meu velho, calma. Foi só uma observação, só queria ajudar... Veja, você começou falando de augusto dos anjos e acabou falando em bucetas e determinismo biológico, quero ver você conseguir juntar tudo agora. Você falhou de novo, eu bem que avisei...

--- Agora você pediu.

Agarrei o copo com as mãos virando todo seu conteúdo no interior de minha boca. Ainda quando engolia, podia ouvir o risinho debochado do Gin-raná escorrendo pela garganta. Lembrei do vinho na cozinha, um vinho de garrafão vagabundo, ou de vagabundo, não sei, mas pelo menos ele não iria me pertubar com seus deboches. Fui à cozinha e me servi do vinho doce, isso iria ensinar o gin e o guaraná a se comportarem melhor.

Mas meu gin-raná estava certo, comecei novamente a despejar pedaços do meu cérebro pelo texto, e agora a coisa toda estava fedendo. A mesa onde escrevia estava cheia de inseticida devido aos cupins, e o cheiro do inseticida me intoxicava e fazia arder meu nariz e garganta.

Mas como eu dizia, a natureza sempre foi uma grande sacana. Deu às mulheres a preparação para parir e ao homem o corpo para carregar pedras e fuder pelas esquinas como cachorro de rua. Felizmente o grande deus Onã viera, para corrigir com sua espada ereta todas as injustiças. O amante experiente se masturba, mesmo quando casado, o que chega em dois pontos dos quais eu lhes falava, antes de começar a escrever isso.

O primeiro, o tabu da masturbação e, o segundo, o tabu da virgindade. Embora hoje em dia, já seja comum se aceitar a necessidade de todo adolescente de realizar com as mãos aquilo para o que não encontra um corpo feminino disponível, não goza o homem casado dos mesmos privilégios, uma vez que o homem casado já dispõe de uma fêmea, não só disponível, mas que também lhe cobra ativamente sua performance. Entretanto, como quanto mais a fundo se conhece mulheres, mais se apaixona por elas, a atividade masturbatória do homem tende a aumentar com o tempo, invés de diminuir. Até mesmo para que a própria psique de indivíduo se alivie e se prepare novamente para nova incursão no terreno de carne e osso que é a mulher. Punheta para os jovens e velhos, eu digo! Punheta para solteiros e casados!

Quanto ao segundo tabu, a virgindade, considero maldosa. Pobre da mulher, impossibilitada de desfrutar daquilo de melhor que seu corpo pode proporcionar, até que lhe venha um pobre infeliz desposá-la. Menos biológica, é uma imposição social, um instrumento de dominação e submissão das mulheres. Cristo disse: "Crescei-vos e multiplicai-vos" e, embora nunca tenha sido religioso, eis aí um mandamento ao qual não me oponho. O corpo individual é livre, e igualmente livre para decidir como deseja desfrutar de si mesmo.

Ah, os poemas... É, temo que meu gin-raná não estivesse tão errado assim. O texto está quase chegando no fim e ainda não descobri o que tem isso a ver com Augusto. Olho pro vinho barato, como quem pede ajuda, mas ele fica quietinho no seu canto, decerto temeroso de levar o mesmo fim da outra bebida. A geladeira, perverso cemitério de todas as bebidas.

Os poetas, são, em verdade, os grandes arautos da liberdade. Desde os versos do grego Anacreonte, exaltando as delícias do culto a Baco e Cupido, até o ódio, escárnio e pessimismo, tão encontráveis em nossos poetas, foram sempre os poetas os primeiras a desfraldar as bandeiras da liberdade corporal, seja para usa materialização terrena, ou uma suposta realização metafísica.

Bebei, pois, jovens poetas! Dançai libertas, jovens virgens! Desfrutai todos das delícias que as viúvas guardam para si em segredo! Imitai os velhos amantes, amando o amor ao amor mais que o objeto amado em si!

E apesar de todo o materialismo biológico e pessimista de Augusto, apesar da boemia aventuresca e sofrida do Álvares de Azevedo, apesar dos filhos da puta eleitos que cagam ordens em nossas cabeças, apesar do hipócritas conservadores que querem proibir a carne de ser livre, apesar dos acéfalos que transam insípidos sem saber por que, que possam todos gozar plenamente de um mundo sem prisões, sejam elas físicas ou psicanalíticas. E que possam mesmo assim, serem felizes aqueles que conseguirem.


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