Das doze mulheres que nunca tive
Decerto que era um tanto precipitada a forma com que me jogava
à Manuela. Espiava-lhe constantemente por baixo da saia enquanto ela,
safada, fingia-se desapercebida por alguns minutos, até que por fim
baixava a saia, para me provocar ainda mais.
Tentei de tudo. Até versos eróticos escrevi. Ela parecia
corresponder a tudo que eu fazia. Cabelo loiro e peito grande era uma
combinação que estava em moda, e ela parecia saber disso, pela forma
orgulhosa como desfilava por aí com seus peitos saltando fora do
vestido.
Por fim, de tanto insistir, ela cedeu. Me convidou até sua
casa. Cheguei de noite com três pacotes de camisinha. Não queria
ficar desprevenido. Um vizinho mais velho e experiente nessas artes de
sedução fora meu guia e recomendara no mínimo seis camisinhas. Levei
nove.
Ao chegar lá ela me apresentou o filho, de quatro anos.
Conversei com eles, tomei chá e nunca mais revi Manuela.
1
Depois disso caí numa fase romântica. Lia Helena, um pequeno e
aborrecido livro de Machado de Assis. E parecia que era meio que por
obrigação que eu lia Helena, mais por estar há muito tempo sem nada.
Só resisti às primeiras 11 páginas e pulei pro final, na parte de trás
do livro. Assim em pouco tempo comecei na frente e terminei atrás com
a sensação de dever cumprido, nada mais. Todo esse esforço
literário feito numa biblioteca universitária. Eu passava por lá
quando me deparei com essa musa de suor e fluídos. Fazia muito calor e
ela usava muito pouca roupa. Sentei na mesma mesa que ela e fiz a
leitura dinâmica do livro já citado. Quando abaixei o volume para
começar a fitá-la e seduzi-la por definitivo, já havia partido. Nunca
sequer soube o nome de minha intelectual quase desnuda.
2
A figura da intelectual continuou martelando em minha cabeça,
de forma que comecei a freqüentar os cafés mais refinados, na
tentativa de encontrar alguém pensante.
Havia essa mulher chamada Tina. Tinha sorriso de criança e
malícia. Não, não era a intelectual que eu procurava, mas de qualquer
forma deu a entender que eu encontraria abrigo entre suas coxas.
Eu a desejava mais do que ar. Eu sonhava com ela. me
masturbava pelo menos três vezes antes de sair para me encontrar com
ela. Foi aí que descobri que o lance dela era grana. Cenzinho e ela ia
pra cama comigo. Sem grana, sem cama.
Prometi que logo arranjaria a grana. Ela percebeu que eu era
um pé rapado falido e sumiu da área por uns tempos.
3
Quando Tina reapareceu eu já havia me desligado dela. Estava
fissurado na Keka, uma menininha de quinze que aparecia no bar do Wonk
de vez em quando. O bar do Wonk ficava na lagoa, e lagoa era sinônimo
de adolescentes bêbadas e desavisadas.
Mesmo assim já tinha seis meses que eu circulava na área sem
sucesso até que apareceu Keka. Ela bebia muito e sempre vinha falar
comigo. Só muito depois fui descobrir que era frígida e o máximo de
contato que consegui dela foi uma vomitada na minha calça.
4
Vi de relance na rua minha intelectual da biblioteca. Ela
tomara um ônibus pro centro. Por sorte vinha outro logo a seguir de
forma que eu o peguei. Fui torcendo para que os dois ônibus não se
afastassem muito e eu conseguisse ver caso ela saltasse. Assim foi até
chegar no fim da linha, no centro. Desci no terminal e nada de
encontrar ela. Se evaporara, como da outra vez.
Era noite e tive que esperar meia hora até pegar um ônibus de
volta. Talvez ela tivesse descido no caminho e eu não percebera.
Talvez eu tenha me enganado e ela não era realmente quem eu achava que
era. Talvez ela não existisse.
O terminal estava deserto. Uma vendedora de amendoim veio até
mim e tentou me vender uns pacotinhos. Por mais que eu recusasse ela
continuava insistindo. Resolvi desabafar. Disse que se comesse
amendoim ia explodir pois estava a meses sem umazinha. Ela replicou
que por cinco pila fazia em mim um boquete num canto. Disse isso
sorrindo e exibindo todos os seus quatro dentes. Se chamava Gisele e
foi mais uma das mulheres que não tive.
5
Goreti foi diferente. Eu ficara realmente deprimido com a má
fase e me tornara recluso. Ela morava perto, se apiedou de mim e
começou a visitar-me. Não só isso, Goreti era também muito feia e eu
era sua chance de sair da lama. Me mudei para um imóvel melhor
localizado.
6
Janaína, ahhh, quem poderia esquecer dela. Com treze anos já
havia dado pra toda turminha de colégio dela. Eu tinha vinte e três e
achei que podia entrar também na brincadeira. Estava na casa dela, os
dois já sem roupa quando o pai dela chegou. Tive que fugir às pressas
para escapar da prisão e nunca mais a revi.
7
A essa altura voltei a freqüentar os cafés de novo. Uma
garçonete chamada Alejandra fazia programas com a garotada. Cobrava
dez pila de cada. Depois do estímulo dos amigos resolvi tentar a sorte
com ela. Me pediu cinqüenta. Cinqüenta, repliquei horrorizado, mas
você sempre cobra dez. Ela assentiu mas explicou que os fregueses dela
eram, em geral, coisas bem melhor do que eu. Depois dessa, minha
autoestima foi pro saco.
Mesmo assim os amigos fizeram uma vaquinha e pagaram ela pra mim. Subimos prum quarto e na hora o treco não levantou. Realmente a
ofensa econômica me atingira. Talvez meu orgulho não protestasse e
fizesse de tudo para arranjar mulher logo e sair da má fase. Mas meu
pau dava mostras de um escrúpulo maior. De forma que guardei a
ferramenta e fui embora, deixando metade dos amigos chocados e a outra
metade tentando reaver a grana.
8
A solidão se agravara definitivamente. Agora, além de não ter
mulher, não tinha amigos. E ainda tinha que me cuidar com a polícia
porque aquela história da menor de treze anos ainda estava rolando.
Passava noites e mais noites bebendo sozinho no canto de um bar. Uma
noite eu estava muito bêbado e dei em cima da mulher do dono do bar.
Ela era uma coroa de cinqüenta experimentada nos caminhos da vida, e
se ele não voltasse a tempo decerto eu a teria traçado no depósito de
bebidas.
Agora, além de tudo, eu ficara sem um bar pra ir. Mas isso é
outra história.
9
Me peguei um dia repensando em Manuela. Talvez eu tivesse
feito besteira. Se não a tivesse rejeitado poderia estar com ela até
hoje. E talvez a criança me tornasse um pai de família, um homem
feito. Ou talvez eu simplesmente a comesse e fosse embora sem
compromissos, mas evitaria o início dessa má fase de mulheres. Ela
havia jogado uma macumba em cima de mim como vingança, por isso essa
fase ruim com mulheres.
Aí conheci essa atriz de teatro. Ela era espalhafatosa e
falava com todo mundo. Há mais de ano sem mulher eu acreditava que já
não precisaria mais delas. Marieta, a atriz, me acendeu de novo. E
como uma memória de civilizações passadas comecei a arder de novo por
aquele contato. Mas Marieta infelizmente era lésbica. E não rolou.
10
Juliana era lésbica também. Em verdade era a mulher de
Marieta. É óbvio que depois de rejeitado tentei levar a coisa na boa
até que tomei um porre e, depois de sem sucesso tentar cantadas em
cima de Marieta, encostei Juliana num canto e tentei agarrá-la a
força.
Acontece que a mulher, tímida, magrinha, cabelos pretos curtos
e sorridente batia pra caralho. Lutava artes marciais e me deu uma
surra. Nunca mais quiseram me rever.
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Finalmente a polícia me achara e eu estava às voltas com o
processo da menor. Como o caso era meio controverso, o fato não fora
consumado e minha tentativa fora testemunhada somente pelo pai, eu
escapara de uma prisão preventiva e respondia em liberdade.
Arranjei uma advogada tremendamente gostosa. Eu babava de
vontade cada vez que a via. Ela dizia que meu caso a excitava. Eu a
instigava mais. Ela dizia que gostava de relações sexuais anormais. A
coisa foi esquentando. Fui pondo cada vez mais lenha na fogueira, até
que ela me propôs um encontro.
Minha sorte foi que o pai da guria descobrira que ela
realmente era a maior fodedora do bairro e desistira do processo.
Segundo soube depois a advogada realmente gostava de relações
anormais. Ela dava pros clientes enquanto o namorado dela assistia
escondido e se masturbava. Depois do cliente estar esgotado de tanto
comer a advogada o cara vinha e comia o cliente. Se sentia assim
superior, por estar comendo o cara que comia a mulher dele. Ainda bem
que o processo parou e não revi mais a advogada, senão a essa hora eu
estaria mesmo fudido.
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