A marcha dos tempos
Buceta era meu nome do meio. Anacreonte Buceta Fonjic. Eu
andava pelos esgotos da cidade rastejando como era normal de se
esperar de alguém na minha idade. Eu tinha a fome. Vinte anos de idade
eu tinha e pressentia morte.
Bar do Canke: o melhor lugar para se ir quando não se quer ir
a lugar algum. Mulheres peçonhentas que te fazem vomitar com sua
presença e te transformam em vodka se você encará-las. A cerveja mais
gelada do mundo e a certeza de que você estará sempre só, a menos que
queira. Foi lá que vi meu filho nascer, numa noite gelada com poucos
fregueses repugnados com a cena.
Tinha esse bêbado lá. Luís Vildnei, era o nome. Fora um médico
antes que a bebida o arrastasse até a mendicância e fez as honras do
parto. A mãe desmaiou assim que o moleque nasceu ao ver que menino
tinha três pernas. Os presentes gritaram de horror. Somente eu tive a
frieza de perceber que o garoto era normal, tinha apenas uma trolha
avantajada. Ele seria um grande comedor, e quando todos perceberam o
que era aquela perna do meio, não resisti e menti: "puxou ao pai".
Claro que um menino assim teria que ser ocultado. Era o
segundo ano de governo do partido virgem, e uma criança assim era uma
clara ameaça à estabilidade do regime celibatário imposto. Ele viera
ao mundo com uma missão, comer todas as mulheres que eu nunca
conseguira comer, o que incluía quase todas as mulheres do mundo. Eu e
Siringe (a mãe) precisávamos também escapar da punição pelo coito
ilegal, de forma que nos refugiamos no norte da ilha num reduto da
resistência.
Estávamos empenhadas na tarefa de disseminar focos de
pornografia pelo país e corroer o regime. O garoto serviria como um
novo impulso.
Acompanhei sua educação. Aos quatro anos já demonstrava vivo
interesse por mulheres, o que me animava. Aos seis anos já recebia sua
cota semanal de mulheres. Aos dez impusemos uma cota diária, à qual
ele se mostrou capaz. Doze anos de governo do Virgens e nossa
resistência começava a dar frutos. Tínhamos infiltrados em todas as
áreas, desde estivadores de porto até cientistas, incluindo um Prêmio
Nobel de Fisiologia.
Nas escolas, o ensino de bordado havia se tornado obrigatório,
recomendado como método eficaz para se evitar o desejo por sexo.
Contudo uma onda de subversão crescia e era cada vez mais comum a
aparição de caralhinhos e bucetinhas nas obras infantis.
Era o décimo sexto ano do regime celibatário, quando
finalmente nosso exército estava pronto. Preparamos o golpe de estado
durante a noite. Eu estava muito velho para a ação e meu filho, então
com catorze anos e um metro de lança, assumiu a tarefa de liderar as
tropas.
Combates sangrentos irromperam durante a noite com muitos
mortos. Ao nascer do dia conseguimos nos infiltrar palácio do governo
e nossos camaradas nos traziam notícias das ruas. O povo andava pelado
e nos apoiava. Queriam não apenas um golpe, exigiam de nós a
revolução.
Eram dez horas da manhã quando entramos na sala dos ministros.
A rainha virgem e suas nove ministras estavam lá encurraladas. Um a um
os combatentes tentavam entrar na sala e eram mortos pelas armas que
elas portavam, uso exclusivo do alto escalão do governo.
Era a hora da arma secreta. Falocius, meu filho, despiu suas
vestes e entrou na sala, com a lança em punho. Imediatamente uma após
outra as ministras largaram as armas e caíram ao chão, admiradas. A
rainha se limitou a um suspiro antes que largasse a arma e voasse
gulosa em direção à trolha. Logo todas as ministras mamavam juntas na
vara, enquanto a rainha desfrutava do poder secreto dos rebeldes.
A revolução se tornou vitoriosa. A rainha fora desvirginada e
um novo governo proclamado. O povo transava nas ruas em regozijo e
comemoração. Uma nova era de paz e properidade se anunciava, o Aeon
das Proles. E todos fuderam felizes para sempre.
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