Retorna ao início
----->contos do fonjic<-----
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998

Il traçattore implacabile

Eu não tinha sorte com as mulheres. Tentava de tudo, fazia até poemas de amor pra elas, mas nada. O problema era falta de sorte mesmo.

A primeira vez que vi Catarina, me apaixonei. Estávamos no Bar do Ianque e, assim que a vi, escrevi um poema de amor:

"meu amor
faz uma semana que deixei
de escovar meus dente...
mesmo assim,
te amo"

Ela me ignorou o resto da noite e, como gesto de desdém, jogou meu poema fora. Estava se fazendo de difícil, aquela vadia, mas sabia que ela tinha gostado. Estava doidinha por mim.

Segui ela. Me escondi atrás de um furgão que vendia regras de estilística e gramáticas mofadas e acompanhei ela descendo a rua. Quando ela passou a ponte, corri atrás. Passamos pela praça, ela na frente e eu atrás, oculto. Entramos numa ruela. Saí correndo e interpelei:

--- Catarina!!!

--- Eu te conheço?

Ah... os velhos jogos de sedução. Sempre que uma mulher diz que não te conhece é porque está doida pra dar pra você.

--- Sou eu, do bar.

--- Como você sabe meu nome?

--- O cara do bar me disse.

--- Bem, eu tenho que ir, até mais.

--- Eu te acompanho.

--- Não precisa, sei andar sozinha.

--- Não gostou do meu poema.

--- Que poema?

Virou a cara e saiu andando. Aquela vadia ainda ia implorar por mim. Voltei pro Bar do Ianque e enchi a cara. Como de costume. Era três e meia da manhã quando fui parar bêbado gritando na frente do prédio da ex-namorada. Como de costume. Tinha uma espécie de festa lá dentro e ela me deixou entrar.

Já era cinco da manhã quando a casa estava quase vazia e eu fui pro quarto com ela. Não quis dar pra mim, como de costume. Disse que não se sentia feliz com os homens, que transar não lhe dava prazer. Entrei na conversa e comecei a tentar convencê-la de que eu poderia resolver o problema. Estávamos deitado na cama de casal, ela com um blusa branca e uma sainha que deixava as pernas e um pouco mais de fora, quando entrou Raul, um chato que sempre se metia em tudo quanto era festa. Devia ser um desses chatos que nunca come ninguém.

Ficou ali ouvindo nossa conversa e eu irritado, torcendo pra que ele se mancasse e fosse embora logo. De repente ele disse, "já sei qual é o problema", e ela "qual?", ele "você ainda é virgem. De alguma forma o teu hímen tá meio deslocado e por isso ele fica trancando o orgasmo".

Isso é a coisa mais absurda que já ouvi na vida, foi o que respondi. Mas enquanto eu falava ele já levantava as pernas dela, tirou a calcinha e foi metendo a cara pra fazer o exame. --- An-rã, é isso mesmo, tá aqui no canto.

--- E o que eu faço?

--- Quer que eu resolva?

--- Quero.

Eu tentava me meter no diálogo e expulsar aquele cara dali, em vão. Ele foi logo tirando um trolha enorme e metendo nela. Continuaram conversando como se eu nem estivesse ali, eu que a tinha por direito, a única mulher que eu comera na vida.

--- Está sentindo?

--- Tô...

--- Pois é, é o hímen. Agora vou dar uma forçadinha e pronto. Upa!

--- Ai!

--- Doeu?

--- Não, quase nada.

--- Pois é, era o hímen. Tá sentindo algo diferente.

--- Ah meu deus, é como se eu nunca tivesse fudido antes.

--- Pois é, é porque nunca te comeram direito, agora vamos resolver isso.

E continuaram ali, conversando e me ignorando, ela gemendo como louca e ele com seu tom professoral esnobe. Como ele podia dizer que ela nunca fora comida direito se eu havia comido ela?

Me despedi deles e saí do quarto. Ela só gemia e me deu um sorriso de adeus. Ele pediu que eu apagasse a luz na saída. Eu precisava reagir. Eu tinha orgulho. Precisava mostrar quem era. Apaguei a luz e, ao sair, bati a porta do quarto com tanta força que eles jamais esqueceriam. Eles haviam recebido meu troco.

Fui pra casa a pé, já amanhecia. Duas mulheres perdidas numa noite só, como de costume. Cheguei em casa frustado, bati uma punheta e fui dormir. Tudo como de costume.


----------x----------

Para ler mais deste autor visite também:
http://uretrite.blogspot.com/
http://br.groups.yahoo.com/group/fonjic/

Clique aqui para cadastrar-se e receber contos de fonjic por email
Receba contos de Fonjic por email

Consulte
Spectro Editora
para ler sobre Charles Bukowski