A essência dos sentidos

De todas as fantasias sexuais possíveis, a mais prazerosa, embora nem tão depravada, seria a de receber uma felação ao mesmo tempo em que aprecio a nona de Beethoven. Vejam bem, a nona tem cerca de uma hora, o que dá pra fazer uma senhora felação.

Mas a música, é claro, com ou sem felação, é sempre uma experiência sexual. Há aqueles que a ouvem e aqueles que a apreciam. Exatamente como no sexo, onde os primeiros apenas ejaculam após cansativos cinco minutos, enquanto os do segundo tipo persistem até a conquista do derradeiro gozo.

Não é complicado. Vejam, minha mulher fuma cigarros, enquanto eu prefiro cachimbos. O cigarro, como se sabe, é incompleto e mecânico, fuma-se um após o outro, sem nunca obter-se a saciedade total, enquanto o cachimbo exige afastamento, dedicação, concentração e uma apreciação de fato, completa.

Sim, há coisas que só uma boa cachimbada pode proporcionar à humanidade. A sensação de deixar-se envolver-se na bruma de aroma forte e deixar-se levar pelos dançarinas orientais que te seduzem, vindas do outro lado da cortina de fumaça e humores desprendida no ambiente pelo fumo. É deixar-se carregar pelos sons primitivos de tambores tribais, que começam a bater e ressoar compassadamente com os batimentos cardíacos, entregar-se ao desligamento completo de seu próprio corpo e arrastar-se nas ondas de uma mar sensorial, que se torna absoluto, total.

Os acordes começam a jorrar aos ouvidos, mistura de Beethoven e Rock pesado. Teclados, cítaras, violinos, gemidos. A mulher amada que abaixa suas calças e diz que te quer hoje, mais do que nunca antes.

É sentir a saliva, que escorre pela sua boca, invadindo estômago, pulmões, afogando-o num mar de delícias proibidas, inacessíveis ao homem. Inacessíveis, a não ser pelo encantamento da arte, a sedução feminina e os prazeres do vício. É sentir a saliva que envolve seu corpo e te devora vorazmente, com paixão.

É então que surge a imagem perfeita, o quadro mais perfumado feito pela arte, a buceta perfeita. É deixar-se mergulhar em ondas de prazer e sedução, ver o oriente e ocidente fundirem-se num só, sentir os hemisférios do cérebro fundirem-se, derreterem-se, sumirem, para dar forma a uma nova imagem, uma nova sensação, uma descoberta nunca antes feita.

Sim. Mulher, Rock, Beethoven e Cachimbo. Esses são os deuses da felicidade. Esses são os deuses da vida, que faz o pulmão ofegar em busca de mais ar, os vasos sangüíneos contraírem-se e dilatarem-se, numa luta por espaço e descoberta, a dialética perfeita de dois corpos num mesmo espaço, espaço infinito de sons e fumaças.

Sim. Sim! The pipe shall lead us to reason, Mr. Plant! Pequenas usinas de enzimas, hormônios e trocas químicas com substâncias mais variadas, pequenas fabricas de otimização e maximização do prazer, pequenos panfletos de exaltação do sentido, é isso que somos.

Somos elos perdidos de nós mesmos. Somos elos que se fecham, cada vez que o deus cachimbo, o deus mulher e o deus música se unem em um só. Somos tudo que pudemos ser, e mesmo assim tentamos ser mais. E honi soit qui mal y pense.

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