Bala na agulha
--- Victor disse que chega!
--- Não, ainda não!
--- Chega, Victor mandou parar já!
--- Puta que pariu, não dá pra esperar um
pouco?
--- Não, você tem que vir agora.
Anacreonte tirou o pau da mulher e saiu andando torto pela
sala. Rita, era o nome da loira de pernas compridas que ele encontrara
no centro pela pechincha de quinze pila. Pensou em bater uma punheta
pra aliviar a agonia, mas Victor brigaria com ele se fizesse isso.
Jogou a camisinha no chão e foi embora, enquanto Rita berrava:
--- Seu filho da puta! Nunca mais vou dar pra ti! Nem nenhuma
amiga minha! Tu nunca mais vai comer ninguém nessa cidade.
Anacreonte começava a ficar cansado daquilo. Quem era o Victor
pra ficar dando ordens assim? Ele fazia isso de propósito, estragava
as fodas de todo mundo porque dizia que mulher estragava o negócio,
tornava os homens molengas e relaxados, e tudo que importava nesse
negócio era o tempo, fazer a coisa certa no tempo certo.
--- Já mataram aquele vereador hoje?
--- É... foi rápido, não?
--- Victor não gosta quando adiantamos o prazo...
--- Bem, era bom não esperar até sexta, o cara tava começando
a ficar desconfiado.
--- Tudo bem, a votação é semana que vem, a gente recebe de
qualquer jeito.
Ele tentava ser simpático. Isso soava errado. Chico era leão
de chácara há 20 anos, e ninguém se torna leão de chácara por ser
simpático. Havia alguma coisa no ar.
--- A vida é uma merda mesmo, não?
Eu já ouvira ele dizer aquela frase antes, não sabia quando,
mas já ouvira. Essa conversa parecia trazer algo de familiar. Mas nada
podia dar errado, estávamos indo bem agora. Só nesse último negócio a
gente ia ganhar tanto dinheiro que ia poder parar de trabalhar. Mas é
uma coisa que se aprende nesse ramo, estamos sempre paranóicos. Precisava descobrir o que estava pairando no ar:
--- O que você vai fazer com o dinheiro?
--- Eu, nada.
--- Você não acha estranho tanto dinheiro assim pra matar um
bosta daqueles?
--- Bem, eram uns caras muito ricos.
--- Gente importante?
--- É, não quero nem saber que é pra poder tirar o meu da
reta.
Droga, tinha alguma coisa ali que eu não estava percebendo.
Era realmente muito dinheiro. Isso era estranho, mas se era gente
importante isso fazia sentido. Pagavam caro só pra ter a garantia de
que o serviço não deixaria pistas. Às vezes chegavam a pagar o triplo
pra garantir que os assassinos também fossem eliminados, de forma a
impossibilitar o trabalho da polícia. E a grana que haviam pago desta
vez era bem alta, mais que o triplo talvez.
--- A vida é uma merda mesmo hein?
--- Por que tu diz isso, Anaca?
--- Não é tu que vai consegui me matar meu caro, sinto muito.
O tiro que dei na cabeça era mais que suficiente pra matá-lo,
mas ainda assim dei mais dois no peito. Não era profissional, o
serviço profissional só gasta o exatamente necessário para matar. Mas
confesso que a possibilidade de meu fim estar próximo me exaltou os
ânimos. Droga, aquele canalha havia sido realmente um grande amigo.
Mas agora o silêncio para ele. Para mim nada mais resta do que uma
fuga rápida, outra cidade, nova vida. Merda, era muita grana mesmo
pelo serviço, seria o suficiente para poder viver decentemente. Devia
ter desconfiado que ninguém planejava que eu vivesse pra recebê-la. Ou
sabiam que se eu descobrisse não teria coragem de ir atrás de Victor
para cobrá-la. Éééé... ou a gente leva uma bala na cabeça ou acaba
fudido sem grana. A vida era uma merda mesmo.
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