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As aventuras de Dudu Trinidad no mundo das virgens

Eu estava outro dia qualquer tomando minha cerveja no Bar do Zanke e agüentando com sucesso minha primeira mijada. A primeira mijada é sempre mais importante, pois é a que abre o caminho nos tortuosos canais urinários. Depois da primeira, sempre vêm outras e outras, intermináveis e urgentes.

Mas aquele dia não. Eram três horas da manhã e eu ainda agüentava firme. Sabia que quando começasse a mijar não pararia mais. E o pior, depois que a licença do bar para tocar banda fora cassada, nos sentíamos estimulados a beber mais ainda do que bebíamos antes.

Eram três e meia quando senti que a bexiga estava quase estourando e a uretra piscando mais do que cego em show de nudismo. Levantei com aquele inchaço no estômago e senti o tranco nas partes baixas, uma dor que pulsava a cada passo que eu dava. Eu ia me mijar. Podia sentir. Era como uma profecia, uma predestinação anunciada.

Com muito custo cheguei a porta do banheiro. O único problema, não havia mais porta. No lugar disso flutuava um desses portais azuis de passagem interdimensional. Por que? Por que? Por que justo no banheiro?

Eu precisava muito mijar. Não daria tempo de chegar até o lado de fora. Um último tranco na uretra acompanhado de dor me fez tomar a decisão. Estiquei a perna e entrei no portal, saindo em um enorme deserto. Não daria tempo sequer de procurar algum lugar por ali. Tirei o coisolho pra fora e mijei como se fosse a última chance de felicidade da espécie humana.

O portal, é claro, era um desses portais de uma via, e não havia nem sinal dele nesse outro mundo. Era dia e silêncio e sem vento, nem sequer uma poeira se movia no ar. O deserto era um desss desertos rochosos, o que era menos pior do que se fosse um deserto de dunas e dunas de areia inacabável. Saí caminhando.

De repente, comecei a sentir um cheiro. Era um cheiro conhecido. Um cheiro de ameaça, algo que eu conhecera há muito tempo atrás antes que houvesse sido extinto em meu mundo. Quando consegui lembrar do que era o cheiro, tarde demais. Duas virgens pularam detrás de uma rocha exalando seu forte odor de hímen não partido. Uma segurava uma faca outra uma rede. Ambas nuas. E belas. E apesar de meu terror e desespero, não pude deixar de ter uma ereção.

Foi o que precisava para despertar nelas a fúria insaciável. Tentei sair correndo mas fui preso pela rede. Temi pela minha integridade física. Me debati na rede e fui logo imobilizado. Um terror irracional me dominava e tentava lutar contra meu tatuzão para que ele baixasse. Eu corria um grave risco. Agora eu lembrava porque as nações haviam se juntado para erradicar as virgens em meu mundo.

--- Fique quieto ou te mato.

Falou a loura da espada, enquanto a morena rolava comigo no chão tentando me imobilizar. Eu sabia que ela falava a verdade. E ereção pode durar por algum tempo logo após um homem se degolado e sei que elas não hesitariam em me matar para abusar de meu cadáver. Finalmente desisti e parei imóvel no chão, todo enrolado na rede. Elas começaram a discutir numa língua que eu não conhecia, talvez as virgens tivessem uma língua secreta que fora ocultada dos homens. Finalmente meu pânico conseguiu tomar conta de todas as partes do meu sistema nervoso e brochei. Isso pareceu por fim acabar com o impasse entre elas e chegaram a um acordo.

--- Vamos te levar de presente à nossa rainha. Trate de se comportar e garantir que tenhamos nossa promoção, senão, voltaremos para acertar conta.

Por hora eu estava a salva. A caminhada pela deserto foi longa e durou o dia todo. À medida em que nos aproximávamos da cidade, mais forte ficava aquele cheiro penetrante de hímens intactos. Devia haver centenas delas, senão milhares.

Fui entregue à rainha que avaliou meu material e marcou o casamento para aquela noite mesmo. Fui levado para ser banhado por escravas de clitóris hablados e vaginas costuradas. Com elas eu estaria à salvo. Me banharam e me vestiram o traje de cerimônia. Uma roupa quente e toda pretaque me cobria praticamente o corpo todo, deixando apenas mãos, pés e as cabeças de fora. Isto é, havia um furo nas partes baixas por onde meu minhoco deveria passar de forma que pudesse ser visto por todos.

No templo, um enorme altar fora construído embaixo de uma figura entalhada na parede de pedra: um bode em pé nas suas duas patas, visto de frente, com um enorme saco que tinha quase três vezes o tamanho dele. Aquele era Bapho, o deus delas, segundo me informou uma das escravas. Em verdade o saco era o deus, servindo o bode mais como ornamento do que imagem sacra em si.

A rainha tinha cerca de quarenta anos. Isso quer dizer, uma virgem que passou quarenta anos sentada comendo enquanto não aparecia um homem, por aí vocês leitores são livres para imaginar como ela era. Junto dela estava a família imperial, que uma escreva ia me explicando enquanto eu seguia o cerimonioso caminho rumo ao altar. Das duas velhas junto, uma era a mãe da rainha e a tia da rainha. A mãe da rainha era atualmente a única não virgem no mundo. Deixara de governar justamente quando cerca de quarenta anos atrás aparecera um homem e a desvirginara. As rainhas das virgens têm que ser virgens, o que quer dizer que ao aceitar um homem a rainha aceitava sua aposentadoria. Além das duas velhas e da rainha monstro, havia uma outra menina, essa sim, bela. Era a irmã da rainha, me explicou a escrava. Tinha quinze anos e nascera por causa de um malaco que caíra ali quinze anos antes e fora rejeitado pela rainha, indo parar nas mãos da mãe. Ambos os homens estavam mortos agora. E irmã da rainha seria a próxima governante.

A medida em que eu me aproximava do altar, um plano diabólico foi se formando na minha mente. Se a irmã da rainha seria sua sucessora, e se a atual rainha acabasse morrendo acidentalmente durante e lua de mel, certamente a nova rainha poderia reivindicar sua posse sobre mim também. E era um pedaço de mulher aquela menina, me movia para a disposição de quebrar meu juramento íntimo de nunca copular com uma virgem. Se fosse acontecer, dos males, pelo menos, o menor.

Casei. Mal entramos e ela começou e tirar e roupa e se esfregar na minha trolha balançante. Era asqueroso. Fui até a cama. Ela se deitou e disse: Vem, vem! Peguei um travesseiro, botei-lhe na cara e foi. Em dez minutos ela estava pra lá de morta.

Saí correndo desesperado pelo palácio e expliquei como a rainha passara mal depois do jantar e morrera engasgada. Os preparativos para a posse imediata da nova rainha foram feitas. Em uma hora a nova rainha seria empossada e em seguida me casariam com ela, uma vez que eu nem chegara às vias de fato com a antecessora.

Mas uma hora pode ser muito tempo quando as intrigas palacianas se desdobram no meio da noite. A virgem de quinze anos tinha ligações com grupos de fundamentalistas lésbicas, o que desagradava os conservadores. Logo apareceu assassinada e quando me conduziram pro novo casamento lá estava a tia da ex-rainha, a última virgem da linhagem real. Tinha 70 anos, isto é, uma virgem que passou setenta anos sentada comendo enquanto não aparecia um homem.

Fui tomado pelo desespero. Quando a felicidade parecia próxima, chega a catástrofe final. Pulei em cima de uma das guardas que faziam a cerimônia e roubei-lhe a faca. Tentei fugir com a faca, logo encurralado num canto. Botei a faca no meu trabuco e ameacei: Pra trás! Pra trás! Pra trás senão eu corto!

Algumas desmairam, outras gritaram, as guardas recuaram. Comecei a rezar ao deus saco-de-bode para que ele me salvasse. Num instante ele apareceu na minha frente e disse, você pode fazer dois pedidos.

--- Me faça um portal que me leve a salvo ao bar do Zanke em meu mundo novamente!

Ele se curvou na minha direção e com o pequenino bode no topo arrancou um de meus testículos, esmagou no chão, e PUF, no local surgiu um portal. Deus idiota, aora eu iria morrer, estava me esvaindo em sangue.

--- Seu estúpido. Volte me saco ao normal, não quero morrer ensagüentado.

Ele arrancou meu outro testículo, esmagou no chão e PUF, meu saco estava inteiro de novo, sem nenhum sangramento, apenas vazio por dentro.

Entrei no portal e saí dentro do banheiro do bar do Zanke. Tirei minha jonga daquele furo e pus dentro da roupa, assim chamaria menos atenção. Peguei uma cerveja e sentei novamente na mesa onde os outros estavam.

--- Foi rápido no banheiro --- alguém comentou.

--- Ééééé --- meneei com a cabeça concordando. Seria inútil contar tudo, ninguém nunca acredita. Mas de alguma forma não pude deixar de sentir uma melancolia triste por saber que aquela mijada me deixara sem algo que talvez eu viesse a querer de volta no futuro.


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