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Tchuchukays from outer space

Era um daqueles dias quentes e agradáveis em que tudo que o cara quer é sentar de cueca numa poltrona com uma cerveja gelada na mão e sentir o corpo derretendo em suor, que é rapidamente absorvido pelo tecido engordurado e encardido.

Simples, direto e objetivo.

Nada mais me importava. Zapeei os canais de TV para me certificar de que passava o mesmo lixo de sempre e desliguei. Meu salário atrasado finalmente chegara e apenas ficar lá, a sós, sentado, sem fazer absolutamente nada, era muito mais do que a maioria da população conseguia. A grande maioria estava em casas lotadas de filhos e parentes e vizinhos e cunhados (que não é parente) e animais e barulhos e rádios e tevês e jogos eletrônicos e toda sorte de parafernália feita para deixar o homem moderno exausto demais para que o pau levante.

Fiquei a sós comigo mesmo sentindo os movimentos e barulhos internos de meu estômago enquanto o mesmo recebia a cerveja e processava sua saída. A paz finalmente havia chegado para mim, nem que fosse por alguns milésimos de segundos.

Lá fora um zumbido que começara muito baixo tornava-se cada vez mais alto, e quando me dei conta uma música pop muito alta começou a tocar e pelas janelas do meu apartamento começaram a entrar dúzias de mulheres semi-nuas. De biquinis, para ser mais exato.

Pareciam todas na faixa dos dezoito aos vinte anos, quase adolescentes, com seios desproporcionalmente grandes e bundas e pernas modeladas. Eu morava no quinto andar e não tinha menor idéia de como aquele bando de mulheres fizera para entrar, nem por que estavam ali.

Tudo que eu sei é que dançavam e pulavam e se esfregavam e beijavam e gritavam e pareciam curtir muito ao som daquela música que vinha sabe-se lá daonde. Eram ao todo umas vinte ou trinta, com ampla representatividade étnica incluindo loiras, ruivas, morenas, japonesas, negras, índias, inuits, e algumas outras etnias que não soube identificar. Juntavam-se em pares trios e até um grupinho com cinco e esfregavam os seios uns nos outros de forma que parecia que iriam estourar como grandes balões inchados. Naquele momento eu podia jurar que havia mais silicone no meu apartamento que em todo o resto do planeta.

Pensei em gritar para botar uma ordem naquela zorra. Pensei em ter uma ereção e ficar ali assistindo elas. Pensei em muitas coisas mas nenhum pensamento teve tanto peso em minha cabeça quanto o de quanto eu estava de saco cheio e queria um pouco de silêncio por ali. Esbocei um grito, mas tudo que saiu foi uma voz rouca quase inaudível. Percebi que algumas garotas mais afoitas já começavam a tirar a roupa e outras vinham tentar sentar-se no meu colo, caso eu não as espantasse abanando com as mãos.

Levantei-me e comecei a caminhar pela casa. Tinha que ter algum truque naquilo ali. Tinha que ter uma explicação qualquer que minha cabeça não conseguia atinar por estar já muito cansada, ou desgastada demais pelos anos de álcool para formular um raciocínio coerente. Eu precisava achar algum sentido para aquilo como um peixe precisa de água. Uma delas, talvez a líder, me disse que eu relaxasse, que bastava eu tirar a roupa e deitar no chão que elas me deixariam feliz.

Não acredito que elas sumissem caso eu fizesse isso. Ignorei solenemente a moça de cabelos azuis que me falara e continuei andando. Fui até a janela procurando alguma escada ou corda pelo qual elas entraram, mas nada. Procurei alguma câmera escondida para ver se não estava em algum programa tolo de família. Também nada. Minha cerveja já esvaziara e dificilmente eu conseguiria chegar na geladeira com aquela zorra toda, de forma que fui forçado a tomar uma atitude. Gritei o mais alto que pude:

--- Vamos parar com essa zorra? Quer fazer a merda do favor de irem pra casa? Caiam fora!!

A música parou. A dança parou. As esfregações pararam e apenas uns gemidos de uma garota tendo orgasmos num canto ainda ressoaram por segundos até que pararam.

--- Agora todo mundo põe a roupa de novo e se manda.

Gemidos, lamentações, cochichos e outros zunzuns encheram a sala e a líder veio em minha direção parecendo esboçar um protesto. Gritei de novo:

--- E silêncio. Ninguém dá mais um pio.

Mãos foram tiradas de dentro de lugares úmidos e roupas começaram a ser vestidas. Uma a uma as garotas saíam pela janela e eu fui até a cozinha em busca de uma cerveja. Abri a lata e com prazer constatei que aquele era o único barulho que se escutava, agora que o silêncio voltara e as garotas andavam pé ante pé para não me incomodar.

Voltei à sala e as últimas ainda saíam pela janela. Pelo movimento que faziam ao sair não pude deduzir se iam para cima ou para baixo, mas quem se importa.

Finalmente fiquei outra vez a sós e em silêncio. O cheiro de bucetas úmidas ainda impregnava o ambiente e a cerveja continuava estupidamente gelada.


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