Excreções de uma bola de gude
Sem grana. Sem boceta. Sem emprego. Sem
perspectivas.
O único programa possível neste final de
2002 era andar a esmo
pelo centro, sem perspectiva. Um colegial
havia me dado a dica de que
no mercado público tinha uma garçonete que
deixava o pessoal dar uma
olhada nos peitos dela por um real. A
coisa era rápida, ela levantava
a camiseta, os fregueses contemplavam por
três ou quatro segundos, aí
ela baixava e continuava com o serviço na mesa. E tudo seguia sem
alterar aquela normalidade movimentada de sempre. Mas eram realmente
uns belos peitos.
Eu até culparia o governo pela falta de perspectiva para a
vida dos jovens, mas o fato é que eu já não era mais jovem e, fato 2,
a falta de perspectiva era generalizada. Meu único plano de futuro era
voltar a ser estudante para conseguir comprar o passe de ônibus por 55
centavos e revender nos cambistas por 80 centavos, um golpe que me
renderia doze reais por mês, suficientes para seis garrafas de
cerveja.
De qualquer forma eu não estava bebendo ultimamente porque
voltara a tomar os remédios. Os doze pila serviam pelo menos para uma
semana de remédio, e isso porque tive sorte de pegar um remédio barato.
Mas o pior de tudo era a insônia. A falta da bebida diária
cobrava uma taxa alta, tinha três noites que eu não dormia. Um colega
disse que isso não era nada, ele já tinha ficado uma semana sem
dormir, mas a comparação não é válida, porque ele cheirava pó e com pó
qualquer um fica uma semana acordado.
Mas ao menos ele era boa companhia, um dos últimos homens que
ainda se interessavam por boceta. Não que a humanidade estivesse
ameaçada de extinção devido a um surto de misogenia, a maioria dos
homens ainda corria atrás de mulheres. Mas a coisa em si, a grande
Vulva, o Triângulo do Prazer, o Pastel de Pelo, a Ostra Barbuda, ou
seja lá como vocês queiram chamar, mas o fato é que a coisa em si, a
boceta, já não era mais devidamente apreciada como outrora. Os
simulacros de homens que agora habitavam as ruas, praças, programas de
tevê e jornais se interessavam mais pela roupa que as mulheres usavam,
a cor do cabelo, os ferrinhos que trespassavam a pele, o carro que
elas dirigiam, o saldo bancário da mulher ou do marido dela, tudo,
tudo menos a boceta.
A primeira vez que conheci uma boceta foi como uma revelação.
Queria beijar, lamber, esfregar e me grudar naquilo, mas a dona estava
menstruada e se sentiu constrangida com o fato, permitindo apenas uma
penetração rotineira. Da segunda vez, outra dona menstruada, mas aí
não teve quem me segurasse e caí logo de boca quase arrancando os
pentelhos dela com os dentes. Pode parecer estranho, mas não deve ser
atribuído à uma coincidência as duas menstruações mencionadas. De
fato, a maioria das mulheres que peguei estavam menstruadas. Como elas
ficam menstruadas, em média, cinco de cada trinta dias, isto é, um
sexto do tempo, e minha paixão pela boceta sempre esteve intimamente
ligada à salivação, não tardei a perceber que era o cheiro de sangue
que me atraía, não de qualquer sangue, mas sim o cheiro característica
que uma fêmea menstruada exala, um perfume doce e profundo, que lembra
a sala de ginástica feminina do colégio dos tempos de criança.
Não sei como desenvolvi tal apreço e habilidade instintiva
apurada em atacar as menstruadas. Só sei que do ponto de vista
biológico isso parece uma catástrofe em termos de seleção natural,
pois reduzia em muito as chances de procriação, de forma que creio ter
desenvolvido a habilidade, invés de tê-la herdado dos remotos
antepassados.
Quer fosse como fosse, já era uma da tarde e eu ainda não
tinha almoçado nem dormido naquela noite. E provavelmente a situação
ainda permaneceria assim por um loooongo tempo.
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