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Bucetas vagam eternamente no paraíso terrestre

Bruscamente fui interrompido. Devaneava novamente pensando em Clara, quando o riso estridente do Paçoca me despertou.

--- Contaí! Contaí de novo aquela história do Sabugo! Hahahaha, essa história é boa, ah sim!

Dei um sorriso como quem não enche nunca o saco e comecei a contar, pela milésima vez, a história do Sabugo, o menino de onze anos que, antes de ser violentado (já que somente mulheres podem ser estupradas, segundo a lei) tivera seu cú arregaçado por um sabugo de milho. O caso era verídico, e trágico... mas por algum motivos o pessoal insistia em rir aos bocados como se tudo não passasse de uma piada.

Eu estava bêbado. Tão bêbado que já falava como um autômato. E Paçoca também. O chão estava uma imundície só, restos de comida e bebida que Paçoca tinha virado sobre o tapete. Ainda assim, Paçoca era um bom amigo, acompanhava legal na bebida e, ainda por cima, era advogado e tinha me dado uma força uns anos atrás no meu primeiro divórcio... rolo de pensão e pagamento, essas coisas assim. Parece que o bebê que minha mulher levara pra longe de mim já tinha cinco anos e precisava que um pai pagasse a escola dele. E só porque justamente eu era o pai do moleque, a vadia acabou entrando na justiça contra mim. Mesmo sendo causa perdida, Paçoca me ajudou na ocasião.

Eu gesticulava, sorria, pulava e encenava em detalhes a história do menino Sabugo, enrabado aos onze. Paçoca, bêbado rolava no chão de rir, espalhando ainda mais as sujeiras pela casa. Mas tudo o que eu conseguia pensar era Clara.

Eu precisava fumar. Cigarro, charuto, cigarrilha, cachimbo, qualquer coisa, mas precisava fumar. Três meses sem fumar. Três meses. Tudo isso porque eu casara com uma naturalista, que me exigia não fumar. Como na época acreditava que buceta fosse mais importante que fumo, concordei com a abstinência.

Clara, Clara... por que afinal ela me chutara era algo que eu não sabia. Ou sabia, mas fazia questão de esquecer. E era só em Clara que eu pensava enquanto contava a história. Pelo menos assim eu fingia que estava me divertindo. Comecei a inventar detalhes, como forma de ganhar tempo, mas o álcool já enfraquecia tanto a mente, que as palavras fugiam:

--- Aí, na hora que o... o... o enrabador ia meter, apareceu um daqueles... daqueles... daqueles bichos peludos... que fazem miau....

--- Gato! --- gritou o Paçoca, como quem acompanha torcendo uma final de campeonato nacional.

--- Isso! Um Gato! Aí o bicho apareceu e começou a se enroscar nas perna do enrabador e miar: MIAU! MIAU!

Comecei a imitar o gato miante interrompendo o tarado e Paçoca teve um novo acesso de riso pelo chão da sala. Mas tudo que eu conseguia pensar no momento era Clara. Droga. A buceta dela era perfeita, o cheiro era perfeito, as curvas perfeitas, a voz perfeita, mas mesmo assim, por algum diabo, nosso relacionamento, depois de um mês, foi se transformando num sofrível iceberg, uma pedra de gela tão grande que seria capaz de gelar um uísque em pleno inferno. Droga.

Lembrar de buceta me fazia mal. Muito mal, definitivamente. E embora meus amigos dissessem que não acreditavam que eu realmente gostasse da buceta de Clara, era na buceta de Clara que eu pensava, e não na da minha mulher, toda noite antes de dormir.

Por fim, depois de tanto vinho, uísque, cerveja e gin, Paçoca apagou no tapete da sala. Aos poucos fui também apagando, sonhado com bucetas, peitos e carrosséis giratórios de transar. Acordei sobressaltado, sussurrando pro vazia da noite a palavra "Clara". Olhei em volta, assustado, contabilizando o estrago da noite, apaguei as luzes e fui dormir.


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