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Do porque fracassaram as negociações de paz entre o imperador Formiguinha e a madame Guilhermina Varadentro Montaro Cabresto da Silva

O leitor que me perdoe, mas merda é merda. Já buceta é uma coisa doce e perfumada que brota na pele da gente nos dias quentes de verão e faz as têmporas incharem até que o suor se transforma em gosma branca que gruda na cueca durante o sono.

Mas tergiverso. Comecei falando em política e terminei em prazeres. O fato é que eu andava intrigado com os mistérios dos aromas vaginais. Lembrava-me de na infância ter visto os cães começarem a perseguir as meninas da rua uma vez por mês depois que elas fizeram treze anos. Quando a menina deixava o cãozinho alegre chegar perto, em vez de pedir carinho ele ia zzzup, na seca com o focinho enterrar bem no meio das pernas, na junção fértil das mulheres. Foi minha primeira lição sobre ciclo menstrual, que mais tarde pude ver com mais exatidão na escola.

Nonsense. Não conheço nenhum artigo que descreva tal comportamento canino referente ao ciclo fértil humano, mas também desconheço qualquer cientista tarado o suficiente para passar um ano sentado numa banqueta observando e anotando o comportamento dos cachorros que havia na rua da minha infância.

Já meu cachorro era diferente. Quando eu chegava em casa com minhas botas de borracha e as atirava para ele, ele também nem queria saber de carinho, mas sim de enfiar o focinho até o fundo da bota, e cheirar até gastar o cheiro. Logo, eu poderia concluir, se fosse um homeopata, que os garotos menstruam pelos pés. Não faz muito sentido, mas ao menos seria mais útil que as gotas homeopáticas que mamãe me dava quando criança. Bastava de uma a duas semanas para curar qualquer gripe, o que coincidia com o tempo sem remédio, mas isso não era relevante na época.

O que era relevante na época é que, em meio à inocência da infância, já começava a surgir meu ódio pelo mundo, incontrolável como as poluções noturnas que mais tarde viriam. Sim, é loucura, mas há um método nela, diria Polônio. Mas embora ande em círculos, do que este conto se trata mesmo é de formigas e do ódio sistemático que aprendi a desenvolver por elas, embora eu preferisse falar de bucetas.

Quão feliz não é uma criança que tem um limoeiro? Qual criança não se entusiasma e trepida de emoção ao verem brotar as auriradiantes folhas verdes de um limoeiro? Qual jovem não lembrará com regozijo, ao lamber pela primeira vez as entranhas vaginais de uma mulher, do doce sumo que corria dos frutos do seu limoeiro? Do mesmo cheiro azedo? Da mesma coloração esverdeada?

Eram os tempos felizes da infância quando a grande nuvem de formigas veio e devorou o pé de limão. Nunca mais botou frutos. E o que sobrou virou sustento estéril dos pulgões vorazes, que sugavam e destruíam o limoeiro da infância, assim como os chatos fariam mais tarde com a vulva amada.

Pode um homem ser culpado pelo seu ódio às formigas? Ou seu amor ao limoeiro-buceta, condenado ao distanciamento eterno? E é por isso leitor, que deveis tomar cuidado com o monstro ardiloso que se esconde em cada formiga, que deve ser esmagada, pisada, raspada e desfigurada até que nada mais reste a não ser o ódio. E isto pode até não parecer um conto, mas há um método nele.


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