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Nas ruas, nos bares, um puteiro qualquer

Eu era virgem. Tinha vinte e cinco anos, seis irmãos na família, uma camisa rasgada e uma revista de sacanagem toda rasgada que eu escondia embaixo do colchão.

Eu seria um grande escritor. Sabia que sim, pois todo dia quando era criança eu beijava a bibliotecária e ela, sorrindo, me dizia:

--- Oh, que bela criança. Você vai ser um gênio quando crescer.

Dizendo isso começava a rir, fazendo seus seios sacudirem eufóricos dentro do decote. Aqueles seios foram os sonhos que embalaram minha infância e juventude, proviram o leite que me alimentou na passagem pra infância. Com o tempo fui crescendo e ela não mais se abaixava pra me beijar, mas agora não era mais preciso. Eu adquirira altura o suficiente para espiar seu decote sem que ela precisasse se abaixar. Pelo relevo do vestido admirava os mamilos duros e convidativos. Sempre à espera de alguém para trepar, ao menos era isso que eu via em meus sonhos.

De noite, na infância, no calor sufocante, sonhava com ela acordando às vezes com pouco ar. Caminhava pela casa durante toda a noite e meus pais acreditavam que eu tivesse medo de fantasmas. Isso porque eu ouvia vozes também, vozes que vinham e falavam comigo de noite, quando a casa já estava escura e todos dormiam. Todos menos eu, eu era sempre o último a conseguir dormir. Eram vozes que vinham e me sussurravam planos, me diziam o que eu devia ou não fazer.

Quando aos doze anos entrei numa briga com um garoto da turma mais adiantada, ele era dois anos mais velho que eu, foram as vozes que me disseram com eu devia fazer para me vingar. E de fato, não só me vinguei, com também nunca fui descoberto nem importunado novamente pelo garoto.

Aos treze anos achei na biblioteca meu primeiro prêmio. Edgar Allan Poe. Eram os "Contos do Grotesco e do Arabesco" e decorei todo o primeiro conto do "Barril de Amontilado", meu favorito.

Doze anos depois e pelo menos mais uns vinte autores já haviam se entranhado em minha cabeça, com sua condição imperativa de imperdíveis. Eu namorava uma menina que conhecera no ponto de ônibus e conquistara ela mandando poemas que eu copiava de livros, assinando-os como meu.

À noite costumava a espiar minha irmã em seus trajes de dormir. Eu tinha vinte e cinco e ela dezessete. Até então ela era o que mais próximo de uma mulher nua eu já havia visto, tirando é claro as mulheres de papel. Um dia ela notou que eu a observava e depois disso parou de andar dentro de casa com pijama ou camisola, só os punha na hora de dormir. Ou então quando queria me pedir alguma coisa, algum favor. Ela aprendia rápido. E provavelmente já não era mais virgem desde os doze anos, ao contrário de mim. Ela sempre foi mais espertinha, e todos na vida sabíamos que era assim que ela subiria na vida, engravidaria de um cara rico e casaria.

Eu era fraco pra bebida. Por isso eu estava ali hoje, naquele canto, remoendo meus vinte e cinco anos de idade. Sabia que mais cedo ou mais tarde teria que abrir aquela porta e encarar o fracasso, a realidade. Vinte pila de bebida, mais cem pila pra mulher e trinta pila pro quarto. Ao todo ficara em 150 pila que meus amigos haviam rachado, cinqüenta de cada um, na esperança de que assim conseguissem resolver meu problema. Isso era mais ou menos uma semana de salário de cada um. 150 e cinqüenta pilas jogados foram, sem utilidade. Ou melhor, com uma grande e colossal utilidade, que comprimia meus pensamentos: servira para aprofundar o poço que me separava do mundo. Servira para aprofundar a vergonha que eu sentia de viver.

Eu tentei de tudo. Pensei nas mulheres de papel que guardava embaixo do colchão. Pensei na bibliotecária. Pensei em meninas do colégio onde eu estudara e de como eu ficava excitada ao vê-las jovens, com seus seios juvenis brotando debaixo da blusa. Pensei até mesmo em minha irmã, o que me deixou sentindo ainda mais culpado.

O problema era a mulher. Ela era gorda demais. Ou muito magra. Sua voz era engraçada, patética. Sua frieza era camuflada num calor simulado, tratamento de rotina ao freguês. Sua pele cheirava a cigarro e suor. Sua bunda era larga e caída. O queixo. Tinha algo com o queixo dela que me incomodava. Fucei, fucei, tentei meter o troço lá dentro, mas não houve cooperação. O buraco era largo, tão diferente daquelas mulheres da revista. Os seis eram grandes demais para serem belos como os de minha irmã e pequenos demais para se compararem a "A Bibliotecária". Ela não usava calcinha. Ofereceu-me todos os orifícios do corpo, tentando achar algum que me interessasse. Por fim ela mesmo acabou sentido-se frustrada e desprezada, impotente ante àquela humilhação pela qual passava. Tentou conversar comigo. Não adiantou. Me masturbar. Não adiantou. Me felaciar. Não adiantou. Por fim a culpa e vergonha que ela sentia tranformaram-se em raiva e desprezo por mim. Disse que seu tempo havia acabado, jogou minhas roupas em cima da cama, pegou as dela e saiu. Nuazinha mesmo. Parecia não querer ficar um só minuto a mais no quarto.

Tive medo de começar a chorar. Fui até o banheiro e me ensopei na pia. Tentaria dizer a eles que foi suor. As paredes eram de tijolo, sem reboco ou tinta, e apenas uma cortina servia de porta entre o quarto e o banheiro. Dei uma cagada. Assoei o nariz no papel higiênico, me limpei, joguei tudo no vaso e por fim mandei por água abaixo.

Comecei a sentir raiva. Afinal, quem era ela para ter me desprezado assim? Quem era ela para ter sido assim tão impaciente comigo? Eu iria mostrar-lhe. Subi na cama e comecei a lembrar dos detalhes da noite, a mão dela, a língua dela, os seios dela, a buceta que ela esfregava com força em minha cara. Comecei a me masturbar e em menos de um minuto eu gozava. Ejaculei sobre os travesseiros e depois ainda esfreguei-os no espelho, como forma de assegurar que minha potência seria notada. Botei minha roupa, meus sapatos e caí fora, saciado. Eu havia sido demais. Eu era um homem agora.

No salão do puteiro, embaixo, encontrei meus amigos. "Você demorou cara, o que houve? Como foi? Por que ela saiu pelada por aí? Como foi? O que vocês fizeram? Conta logo, como foi, porra?"

Todas essas perguntas transbordavam em cima de mim, sem organização ou ordem. Eles queriam saber. "Vamos indo" disse a eles. e enquanto íamos pra porta contei como fora demais, como várias vezes eu gozara violentamente dentro e fora dela, a ponto de espalhar porra pelo quarto inteiro. Contei-lhes como eu, em minha afobação e sede acabara com a moça e assustara-a a ponto de fazê-la sair de lá sem roupa, chorando. Eles ficaram impressionados e falei que teria que voltar lá de novo, outro dia, que prometera a ela que voltaria para dar mais algumas de tanto que ela havia gostado. Tudo de graça, é claro.

Fomos embora. Ao chegar em casa fui quase direto pro banho. Parei no caminho e espiei minha irmã dormindo. Ela usava uma blusa justa que lhe comprimia os seis e um short folgado que deixava à mostra a calcinha. No banho novamente me masturbei. E só então chorei.


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