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Demônio robô tarado do espaço e outras trivialidades

Eu era um jovem detetive caçador de bucetas. Tão talentoso que recebera o prêmio da associação de detetives pela captura de uma buceta famosa, que a modéstia e o sigilo profissional me impedem agora de revelar. Mas o pior caso da minha carreira ainda estaria por vir.

Eu estava na cola de um meliante chamado Arigatô. Arigatô era dono de uma pastelaria e vivia numa casa de subúrbio e era o principal suspeito pelo roubo de uma buceta. A moça roubada em questão era virgem, ainda muito jovem, e o pai dela me contratara.

Comecei a freqüentar a casa da jovem virgem. Era de fato pessoa agradável, e logo me inteirei dos amigos estranhos que a cercavam. Era uma pena mesma que tão jovem já estivesse sem a buceta.

Eu precisava me concentrar nesse caso e desvendar logo o mistério do roubo, senão a buceta intacta corria o risco de ter sido já esgaçada por algum malandro quando a recuperássemos. Eu tinha um método onírico de adivinhação de pistas, um método premonitório que eu mantinha em segredo e consistia no na fonte mesma do meu sucesso no ramo. Consegui com os pais da jovem algumas fotos da buceta anteriores ao seqüestro, reproduzi-as no fotocopiadora do Adão, que fica na esquina, e espalhei pelo meu escritório, forrando as paredes. Tranquei a porta, apaguei as luzes e me masturbei durante o resto daquela tarde, até que eu chegasse num estágio mediúnico de cansaço e uma pista me viesse à mente.

Não sei se foi a fome de vários dias quase sem comer ou uma iluminação mediúnica, mas depois da quinta punheta me veio uma puta vontade de ir na pastelaria do china. Por que diabos chamavam o cara de Arigatô, que é palavra japonesa, se o maldito era chinês? Isso era mais um dos mistérios que eu teria que resolver nesse caso e que faziam o cara ainda mais suspeito.

Algumas horas depois anoitecia e aqui estava eu seguindo o suspeito para descobrir o esconderijo. Eu precisava tomar cuidado para que ele não me visse, não porque ele poderia fugir, mas porque eu estava sem grana e me mandara da pastelaria aquela tarde sem pagar os pastéis.

Ele entrou num buraco de casa. Espiei pela janela e vi Tonico. Tonico era um dos amigos estranhos da jovem e conversava com o chinês. Tudo começava a se encaixar agora, eu estava numa pista quente.

Toquei a campainha. O cara do pastel atendeu:

--- Olá! Ei, eu conheço você! Seu canalha, me deve um pastel de palmito e dois de frango.

--- Relaxa, terei dinheiro para pagar assim que desbaratar essa quadrilha.

--- Que diabos vocês está falando?

--- Da buceta virgem roubada.

Arigatô estremeceu e empalideceu. Forcei minha entrada na casa e encontrei o Tonico, me observando com desconfiança. Interroguei os elementos, que por fim abriram o jogo: estavam possuídos por alienígenas de um planeta de outra galáxia que alegavam estar ali apenas para observar, não iriam causar nenhum dano aos terrestres. Besteira. Saquei a arma e matei os dois ali mesmo. Procurei pela buceta, mas como não a achei, peguei uns dólares que eles tinham escondido por ali. Isso seria uma boa pista.

Passei uma semana bebendo e comendo bem. Os dólares eram mais do que eu ganhava num ano e já tinha até esquecido da buceta roubada. Quando vi o china na rua tomei o maior susto. Segui ele, e dessa vez ele foi se reencontrar com Tonico num barraco do outro lado da cidade. Invadi o barraco com um sapataço na porta.

--- Seus pulhas! Vocês estão mortos, deviam estar podres já!

--- Calma, calma seu Anaca. Veja, nossos corpos foram possuídos por entidades alienígenas, como eu já disse. Eles nos impediram de morrer com isso.

Ele bateu na barriga e um som metálico ecoou. Corpos robóticos. Eles disseram que não queriam mais problemas e se eu quisesse, poderia subir para falar diretamente com os alienígenas. Concordei, e eles me encaminharam para um espelho feio que servia de disfarce para o portal. Atravessei o portal.

Atravessei o portal e encontrei as monstruosidades. Eram dois imensos bichos bípedes com asas que se prolongavam em mãos e imensas garras nas mão, demoniformes. Eram cinzentos, pareciam moldados em blocos de grafite.

--- Vocês são mais feios do que eu esperava --- eu disse.

--- Não importa --- disse um dos monstros num falar sibilante --- agora você veio! Agora teu cu é nosso!

Meu sangue subiu e uma pedra pareceu pesar no estômago, eu não podia me apavorar, precisava agir. Mas apavoro foi a única reação possível quando notei que não só as garras eram imensas, mas também outra coisa que se prolongava por mais de meio metro partindo do meio das pernas das criaturas. Chutei na região em que seria o saco da primeira criatura e acertei, havia mesmo um saco ali. Enquanto ela caia gemendo em língua ET no chão, saquei a arma e dei três tiros na cabeça da outra criatura. Caiu mortinha. É o que eu sempre digo, não há nada como três tiros na cabeça.

A outra criatura parecia se recuperar e começava a se levantar. Ela pediu clemência, atirei impiedosamente. Como um bom detetive profissional eu devia destruir as provas. Depois disso vasculhei o ambiente das criaturas e encontrei: dentro de um frasco, bem conservada, a buceta da virgem.

Peguei a buceta e cheguei. Estava intocada. Todos estavam mortos, o enigma fora desbaratado, e talvez ninguém notasse se a coisa fosse um pouquinho usada. Meti naquela buceta ali mesmo e senti a felicidade voltando à minha vida. Realmente as de verdade eram bem melhores e eu já nem lembrava mais quanto. Dei um cochilo. Depois disso entrei no portal, fui até o banheiro do barraco, lavei a buceta, sequei e penteei. Ela precisava parecer bonita e intacta quando eu fosse levá-la aos pais da virgem. No chão do barraco, os corpos robôs permaneciam inertes, como marionetes abandonadas.

Levei a buceta de volta e peguei meu pagamento. Com uma gorjeta extra por ter levado ela ainda intacta. Eu era um profissional. Aqueles malditos ET's aprenderam a lição, e nunca mais alienígena algum tentou me comer.


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